terça-feira, 28 de agosto de 2012

Nove espécies de briozoários são descobertas por pesquisadores da USP

Classificação
Reino Animalia :: Filo Ectoprocta :: Classe Gymnolaemata :: Ordem Cheilostomata :: Família Bugulidae :: Gênero Bugula :: Espécie Bugula neritina

Agência FAPESP – Um estudo realizado por pesquisadores do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da Universidade de São Paulo (USP) resultou na descrição de nove espécies novas de briozoários do gênero Bugula no litoral brasileiro. Os briozoários são animais invertebrados majoritariamente marinhos que vivem em colônias, presos ao substrato.
O estudo que descreve as espécies – encontradas nos litorais de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo – foi publicado na revista PLoS One.

As novas espécies foram denominadas de: Bugula bowiei, Bugula foliolatan, Bugula guara, Bugula biota, Bugula ingens, Bugula gnoma, Bugula alba, Bugula rochae e Bugula migottoi.
Os nomes das novas espécies homenageiam o Programa BIOTA-FAPESP (Bugula biota), o vice-diretor do Cebimar, Álvaro Migotto (Bugula migottoi), a professora Rosana Rocha, do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (Bugula rochae), e o músico britânico David Bowie (Bugula bowiei).

O artigo com a descrição foi elaborado por Leandro Vieira, pesquisador do departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (IB) da USP, Karin Fehlauer-Ale, pesquisadora do Laboratório de Sistemática e Evolução de Bryozoa do Cebimar, e Judith Winston, do Museu de História Natural da Virginia (Estados Unidos).
O estudo foi realizado com apoio da FAPESP, no âmbito do projeto “Caracterização molecular de Bugula spp.: implicações taxonômicas, filogenéticas e de bioinvasão”, coordenado por Migotto.
Segundo Fehlauer-Ale, além de contribuir para a caracterização morfológica e para o conhecimento sobre a riqueza de espécies do gênero Bugula no Atântico Sul, o estudo também realizou uma revisão taxonômica do gênero.

Algumas das novas espécies caracterizadas eram antes confundidas com espécies típicas do Atlântico Norte e consideradas como espécies invasoras no Brasil.
séssil“Em alguns casos não se tratava de espécies invasoras, mas apenas de um problema taxonômico. É importante fazer essa revisão, porque, se um táxon for identificado de forma errônea, isso pode resultar em medidas inadequadas contra invasores que não o são, ou pode levar a subestimar a diversidade de uma costa ao considerar várias espécies como uma só”, disse Fehlauer-Ale à Agência FAPESP.

Embora sejam organismos sésseis – isto é, que vivem presos ao substrato marinho –, os briozoários se movimentam na coluna d’água durante a fase larval de seu ciclo de vida. Ainda assim, como a fase móvel é bastante restrita, seria plausível que cada espécie tivesse uma restrição geográfica bem determinada.

“No entanto, o que temos observado é que várias espécies possuem uma distribuição global, ao contrário do que seria de se esperar. A hipótese que sugerimos para explicar isso é o transporte antropogênico: isto é, os briozoários podem ser disseminados nos cascos de navios, em sua fase adulta. Por isso há uma preocupação com espécies invasoras em relação a esse filo”, disse Fehlauer-Ale.

60% das espécies conhecidas

Um dos objetivos do grupo do Cebimar foi compreender melhor que espécies residem na costa brasileira. O gênero Bugula foi escolhido porque já incluía algumas espécies reconhecidas como invasoras. Outro objetivo foi realizar amostragens comparativas fora da área mais estudada, que é a região Sudeste. O grupo estudou regiões costeiras de Alagoas, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná.

“Para nossa surpresa, descobrimos nove espécies novas, o que corresponde a mais de 60% das espécies já conhecidas na costa brasileira”, disse Fehlauer-Ale.

Além dos autores do artigo, os estudos tiveram contribuição de Andrea Waeschenbach, do Museu de História Natural de Londres (Reino Unido), e Ezequiel Ale, doutorando de genética e biologia evolutiva do IB-USP.
De acordo com Fehlauer-Ale, de agora em diante seus estudos terão foco na espécie Bugula neritina , que tem indícios de ser um “mosaico”. “É possível que sejam três espécies de Bugula morfologicamente semelhantes, mas que apresentam distinções em análises de DNA e outros atributos como simbiose bacteriana. Encontradas em escala global, duas das espécies têm potencial de invasão”, afirmou.
O trabalho terá colaboração dos pesquisadores Joshua Mackie, da Universidade Estadual de San Jose, na Califórnia (Estados Unidos), e Grace Lin-Fong, do Randolph-Macon College, na Virgínia (Estados Unidos).

No estudo realizado, Winston teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Pesquisador Visitante, no âmbito do projeto “Sistemática, evolução e distribuição de briozoários marinhos recentes no Brasil”, também coordenado por Migotto.
Migotto também participou das pesquisas ao orientar o pós-doutorado de Fehlauer-Ale – com Bolsa de Pós-Doutorado – e o mestrado e doutorado de Vieira, ambos realizados com bolsas da FAPESP.
O artigo Nine New Species of Bugula Oken (Bryozoa: Cheilostomata) in Brazilian Shallow Waters, de Leandro M. Vieira e outros, pode ser lido na PLoS One em www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0040492

Microcrustáceos no mar profundo brasileiro


Duas novas espécies, encontradas a 492 metros de profundidade, Brasil, indicam nível de poluição ambiental e servem de alimento a peixes e camarões.

Uma pesquisa desenvolvida em Pernambuco, em parceria com a Petrobras e o Instituto de Senckenberg, em Wilhelmshaven, na Alemanha, identificou duas novas espécies de microcrustáceos em mar profundo no Brasil. Os animais, encontrados a 492 metros de profundidade, vivem entre os grãos de sedimentos. Eles funcionam como indicadores de poluição ambiental, além de desempenharem a função de regeneradores de nutrientes no ambiente. Na base da cadeia alimentar, nutrem peixes e camarões.

De acordo com o estudo, a descoberta dos novos invertebrados pode fornecer dados práticos para pesquisas de monitoramento ambiental de áreas de produção de petróleo. O levantamento é o resultado do doutorado em oceanografia da bióloga Danielle Vasconcelos, feito na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A média de tamanho dos microcrustáceos pode variar de 0,2 a 2,5 milímetros. A pesquisa, no entanto, identificou espécimes de dimensão ainda menor, do Kliopsyllus minor, que recebeu o nome devido ao menor tamanho registrado do gênero (0,19 milímetro). A outra espécie encontrada, denominada Pseudomesochra longiseta, é a 19ª do gênero registrada no mundo. Na denominação científica de um ser vivo, o gênero corresponde ao primeiro nome e a espécie, ao segundo.

De acordo com o relatório, estima-se que existam registradas mais de 4.300 espécies de copépodos da ordem Harpacticoida, mas somente 460 espécies de mar profundo foram descritas até agora. “É uma região pouco estudada porque existe dificuldade de acesso e necessidade de grandes investimentos, entre eles a exigência de equipamentos especiais de coleta de material”, disse Danielle Vasconcelos.

“Esse estudo foi inovador, e, de todo material coletado, temos ainda cerca de 90% de espécies novas a serem descritas. Isso representa o começo de um longo estudo que virá e de novos que precisam ser intensificados em outras regiões do Brasil”, acrescentou a pesquisadora.

EXPEDIÇÃO
As amostras de sedimento que permitiram as pesquisas sobre os microcrustáceos foram coletadas em águas de Sergipe durante a expedição oceanográfica do projeto de caracterização ambiental de águas profundas, coordenado pela Petrobrás.

Os animais foram analisados no Laboratório Dinâmica de Populações da UFPE (Labdin), coordenado por Paulo Parreira Santos, o que permitiu a caracterização detalhada da estrutura corporal e identificação dos microcrustáceos. Depois de examinados, os espécimes foram encaminhados ao Museu da Universidade de São Paulo.

“O mar profundo é uma região extremamente rica no que se refere à diversidade da fauna, e, oportunidades de desenvolver trabalhos com boas parcerias tornam-se focos para o crescimento profissional”, disse a pesquisadora.

Au: Larissa Brainer