quarta-feira, 26 de maio de 2010

Peixes abriram caminho para os vertebrados.O que há de novo nesta questão?





Pesquisa feita por estudante da Universidade de Chicago aponta que animais marinhos que sobreviveram a extinção em massa há milhões de anos deram origem a inúmeras espécies atuais, incluindo o homem

Tudo aconteceu cerca de 360 milhões de anos atrás, durante o Período Devoniano (o quarto da Era Paleozoica), após o surgimento das primeiras vegetações e numa época em que peixes bizarros habitavam os mares: alguns dos chamados placodermos mediam até 10m de comprimento, apresentavam uma espécie de blindagem e mandíbulas poderosas.
Foi então que esses animais desapareceram, em um episódio ainda considerado um mistério para a ciência, denominado Evento Hangenberg. E foi a extinção dos peixes primitivos que abriu espaço para o surgimento de todos os vertebrados modernos, inclusive o homem.
A conclusão faz parte de um estudo publicado pela revista científica Proceedings of National Academy of Science (PNAS) e coordenado pela estudante de graduação em biologia e anatomia do organismo Lauren Sallan, da Universidade de Chicago.
"Suspeitamos que houve algum tipo de reviravolta entre os períodos Devoniano (entre 416 milhões e 359 milhões de anos atrás) e Carbonífero (354 milhões e 290 milhões), com base nos registros fósseis e em estudos recentes", afirmou Lauren ao Correio, em entrevista por e-mail.
De acordo com ela, a transição dos peixes pré-históricos para os animais vertebrados modernos foi repentina. "O Evento Hangenberg eliminou a maior parte das espécies dominantes do Devoniano, destruindo os ecossistemas existentes e diminuindo as chances de sobrevivência", explica a estudante.

"Um punhado de outras espécies, incluindo os peixes Acanthodii (ósseos e cartilaginosos), sobreviveu, mas nunca se recuperou totalmente, tornando-se vítima eventual da extinção. Entre as espécies que resistiram estão os tetrápodes marinhos de cinco dedos, ancestrais dos vertebrados modernos, e os tubarões - ambas raras no Período Devoniano", acrescenta Lauren.

A pesquisadora explica que, depois de um período de recuperação, esses animais se diversificaram em formas distintas e prepararam o terreno para a atual biodiversidade.

Apesar da escassez dos registros fósseis dos primeiros vertebrados, Lauren e seu professor Michael Coates usaram uma base de dados mais ampla dos períodos Devoniano e Carbonífero e realizaram análises ecológicas.

"Pudemos detectar uma reviravolta da fauna, ou uma extinção em massa. Percebemos que os placodermos desapareceram no fim do Período Devoniano", conta a cientista. Culpa do Evento Hangenberg, representado pela deposição de folhelhos (rochas sedimentares) por todo o planeta.

"As causas do aniquilamento dos peixes pré-históricos são desconhecidas. Recentemente, comprovou-se que as geleiras existiam nos trópicos durante a extinção, bem como no Polo Sul", explica Lauren, comparando o fenômeno a uma era glacial. "Como resultado, o nível dos mares caiu drasticamente, lançando áreas marinhas sobre regiões do continente", acrescenta.

Sorte

Lauren vê a sorte como explicação para o fato de os vertebrados modernos terem conquistado uma posição de domínio. "Acreditava-se que eles tivessem assumido a fauna por meio de alguma vantagem competitiva. No entanto, temos mostrado que não há nada intrinsecamente melhor", admite.

Ao mesmo tempo, os tetrápodes conquistaram terreno de forma progressiva, depois de quase serem eliminados. "Talvez, uns poucos sortudos tenham sobrevivido para se tornarem ancestrais dos animais terrestres da atualidade", diz.

Os cientistas teorizavam que o Evento Kellwasser - uma das cinco maiores extinções da história da Terra -, no fim do Devoniano, teria sido responsável pela reestruturação dos invertebrados marinhos. A análise de Lauren e Michael destacou uma mudança crítica nessa diversidade, apenas 15 milhões de anos depois.

Após essa extinção, ocorreu um período de 15 milhões de anos durante o qual os tetrápodes quase não existiram. Os dados dos estudos da Universidade de Chicago pressupõem que esse vácuo representou uma espécie de ressaca após o Hangenberg.

"Algo classicamente visto após uma extinção é um vácuo nos registros de sobreviventes", esclarece Lauren. "Você tem uma diversidade de fauna muito reduzida, porque a maior parte das coisas foi dizimada", acrescenta.

Segundo Michael, os eventos de extinção removeram uma imensa quantidade de biodiversidade. "Isso molda o mosaico de biodiversidade que persiste até os dias atuais", diz.
Rodrigo Craveiro

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Cientistas descobrem no Marrocos 1,5 mil fósseis de invertebrados

Águas calmas e condições químicas favoráveis ajudaram a preservar os fósseis. (Foto: Nature/Reprodução)

Animais marinhos viveram há mais de 470 milhões de anos.
Sem ossos, esses animais deixaram poucas 'pistas' para estudiosos.
Paleontólogos da Universidade de Yale, nos EUA, descobriram mais de 1,5 mil fósseis de animais marinhos invertebrados que viveram entre 480 e 472 milhões de anos atrás, durante o período Ordoviciano.
As descobertas, feitas no Marrocos, ajudarão a entender como funcionavam os ecossistemas nessa época, quando houve uma grande diversificação das espécies e a maioria da vida na Terra ainda era encontrada nos oceanos.
Muitos dos fósseis são completos e incluem esponjas, vermes anelídeos, moluscos e caranguejos-ferradura. Como não possuíam ossos, esses animais deixaram poucas pistas para os paleontólogos. No Marrocos, águas calmas e condições químicas favoráveis contribuíram para a preservação das criaturas.
O achado foi publicado na última edição da revista científica "Nature".