quinta-feira, 16 de junho de 2011

Projeto Temático no BIOTA-FAPESP faz levantamento sobre crustáceos de dez patas no litoral do Estado de São Paulo para montar um catálogo com a técnica do DNA barcoding (Pachycheles riisei – foto Leonardo Pileggi)


Agência FAPESP – Estima-se que existam mais de 17 mil espécies de crustáceos com dez patas, ou decápodes, entre eles os camarões, siris, lagostas, ermitões e caranguejos. Desse grupo, calcula-se que há mais de 600 ocorrentes na costa brasileira. Para o litoral de São Paulo, são conhecidas somente cerca de 350 espécies.
Com o objetivo de aumentar o inventário no litoral paulista, começou no início de 2011 o Projeto Temático “Crustáceos decápodes: multidisciplinaridade na caracterização da biodiversidade marinha do Estado de São Paulo”, realizado no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP.
“Nos próximos cinco anos, esperamos aumentar em cerca de 20% o número de espécies conhecidas de decápodes”, disse o coordenador do projeto, Fernando Luis Medina Mantelatto, professor titular do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP).
A semente do projeto surgiu em 2001 quando Mantelatto fez um pós-doutorado em filogenia molecular nos Estados Unidos. A partir daí veio a ideia de aplicar esse conhecimento na solução de problemas taxonômicos entre os crustáceos decápodes, seu foco de estudo.
O segundo passo foi dado com a criação do Laboratório de Bioecologia e Sistemática de Crustáceos da USP em Ribeirão Preto. Tanto o pós-doutorado como o laboratório receberam apoio da FAPESP.
Foi preciso ainda outros dois impulsos importantes, o aprimoramento da biologia molecular e o advento da técnica de código de barras do DNA, ou DNA barcoding.
Depois, foi uma questão de unir esses elementos em torno de um objetivo relevante: conhecer a fauna de crustáceos decápodes que habitam o litoral de São Paulo e mapeá-los geneticamente.
“Há muitas espécies com relevância taxonômica e papel-chave na evolução de alguns grupos, além de outras com grande importância comercial, como os camarões branco, rosa e sete barbas”, disse Mantelatto.
Somente na primeira expedição, os pesquisadores detectaram diferenças populacionais marcantes nessas espécies em relação às áreas de ocorrência no litoral paulista, além de cinco espécies de decápodes ainda não registradas.
“Essa grande biodiversidade do litoral paulista se deve ao fato de se tratar de uma zona de transição faunística com representantes de águas tropicais e águas frias”, disse.
Nos primeiros dois anos do projeto o esforço será o de reunir uma coletânea de espécies de regiões de todo o litoral, o que inclui amostragens em manguezais, praias, costões, ilhas e até áreas de maior profundidade.
Expedições periódicas com cerca de 20 pesquisadores e alunos de diferentes níveis percorrerão essas áreas e coletarão os animais, acondicionando-os em gelo ou álcool 80%, medidas necessárias para a análise molecular.
“Nesse esforço, serão realizadas coletas manuais, com armadilhas, por meio de barcos de arrasto, mergulhos livres ou com equipamento autônomo. Além das coletas, visitas a diferentes instituições e museus do Brasil e do exterior estão previstas para a identificação das espécies”, contou Mantelatto.
Uma vez no laboratório, as espécies serão identificadas e o DNA será extraído da musculatura e sequenciado para formar o código de barras de cada espécie. Esse código será depositado em um banco de dados que reúne genes de espécies do mundo todo, o GenBank, mantido pelo National Center for Biotechnology Information, nos Estados Unidos.
Vertentes da biologia molecular
Uma das grandes contribuições desse projeto, de acordo com Mantelatto, será o de estabelecer o status taxonômico de espécies crípticas, que reúne indivíduos de morfologia praticamente idêntica, mas distinta em aspectos genéticos e larvais. “Com isso, podemos desmembrar alguns dos chamados ‘complexos de espécies’ em uma ou em várias espécies”, disse.
Com o projeto principal, ocorrerão em paralelo dois subprojetos. Um deles envolve a ecologia populacional e a genética populacional. Será feito um levantamento por estimativa das populações mais recorrentes no litoral e também daquelas espécies que sejam de relevância econômica para a região. Esses dados poderão contribuir para a sustentabilidade da pesca.
O outro subprojeto focará a espermeotaxonomia das espécies de grande relevância taxonômica e/ou econômica. Essa é uma ferramenta importante para a diferenciação entre espécies, além de fornecer subsídios para medir a capacidade reprodutiva dos animais.
“Com os subprojetos, esse trabalho de pesquisa reúne três vertentes da biologia: taxonomia molecular, ecológica e reprodutiva”, disse o professor da USP, frisando o caráter multidisciplinar do Projeto Temático.
Além de Mantelatto, estão envolvidos professores da Unesp dos campi de Assis, Bauru e Jaboticabal e outros dez pesquisadores do Brasil e do exterior, de instituições da Alemanha, Chile, Costa Rica, Espanha, México e Estados Unidos.
Também atuam no Temático diversos bolsistas FAPESP em diferentes níveis (Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado, Pós-Doutorado e TreinamentoTécnico).
“A natureza multi e interdisciplinar do projeto trará uma relevante contribuição para o conhecimento dessa fauna marinha de São Paulo, para a preservação da biodiversidade do Estado e para o consequente aumento da visibilidade desse conhecimento no cenário nacional e internacional”, disse Mantelatto.