Os bancos
de algas coralíneas cobrem quase 21 mil quilômetros quadrados do Banco dos
Abrolhos e são responsáveis por 5% da produção mundial de carbonato de cálcio.
Estudo realizado durante dois anos na plataforma continental no Sul da
Bahia e Norte do Espírito Santo confirmou que o Banco dos Abrolhos abriga o
maior banco contínuo de rodolitos do planeta - 20.900 km² -, o que corresponde
a três vezes e meia o tamanho do Distrito Federal.O estudo, conduzido por cientistas de diversas instituições que compõem a Rede Abrolhos, uma das iniciativas do Sistema Nacional de Pesquisas em Biodiversidade (SISBIOTA) e da Conservação Internacional, foi publicado na conceituada revista científica PLoS ONE. Com a utilização de sonar de varredura lateral, veículos submarinos de operação remota (VORs) e equipamentos de mergulho, os pesquisadores avaliaram a distribuição, extensão, composição e estrutura do banco de rodolitos no
Algumas vezes confundido com os corais, os rodolitos possuem forma
arredondada e são formados por várias camadas, principalmente de algas
calcárias incrustrantes.
"Encontrar o maior banco de rodolitos do mundo no Banco dos
Abrolhos, no Brasil, evidencia a extrema importância desta parte do Oceano
Atlântico," disse Rodrigo Moura, Professor da Universidade Federal do Rio
de Janeiro e co-autor do estudo. "Os rodolitos desempenham papel
fundamental em um ecossistema marinho saudável, fornecendo habitat primário que
pode abrigar diversas e abundantes comunidades de peixes e invertebrados de
elevado valor comercial."Os rodolitos constituem-se de estruturas calcárias (CaCO3 – carbonato de cálcio) bioconstruídas, o que lhes conferem uma estrutura rígida, complexa, que servem de habitats para outras espécies. Os pesquisadores também estimam que os rodolitos do Banco dos Abrolhos são responsáveis por cerca de 5% da produção mundial de carbonato de cálcio (mineral que forma a carapaça de moluscos e crustáceos e o esqueleto dos corais).
"Bancos de rodolitos como estes são gigantescas biofábricas de
carbonato de cálcio e podem desempenhar um papel significativo na regulação do
clima global," disse Les Kaufman, cientista marinho sênior da Conservação
Internacional. "Mas para entender qual é e quão significativo pode ser o
seu papel, temos que aprender mais sobre eles."
Os bancos de rodolitos enfrentam uma série de ameaças, incluindo a
acidificação dos oceanos, o aumento da sedimentação de origem costeira e, em
grande escala, a dragagem e a mineração. Embora a acidificação dos oceanos não
possa ser controlada em uma escala regional, as outras ameaças aos bancos de
rodolitos de Abrolhos merecem atenção e podem ser controladas localmente.O Banco dos Abrolhos se estende por uma área de 46,000 quilômetros quadrados, onde a Conservação Internacional trabalha com organizações governamentais e comunitárias brasileiras para a conservação e gestão dos recursos marinhos.
“Com base na vulnerabilidade relativamente elevada das algas coralíneas
à acidificação dos oceanos, é muito provável que os bancos dos rodolitos
sofrerão uma profunda reestruturação nas próximas décadas," disse o autor
do estudo, Gilberto M. Amado-Filho, pesquisador do Instituto de Pesquisas
Jardim Botânico do Rio de Janeiro. "Considerando a produção de cerca de 25
milhões de toneladas de carbonato de cálcio por ano, a proteção e o estudo
continuado da plataforma do Banco dos Abrolhos devem ser priorizados."
Além dos bancos de rodolitos, o estudo revelou também enormes áreas de fundo
do mar cobertas por algas, depressões no assoalho marinho (“buracas”) povoadas
por densas populações de peixes e recifes compostos por corais e algas
coralíneas. Essas novas descobertas redimensionam áreas marinhas de elevada
importância ecológica, como o megahabitat rodolito, ressaltando a importância
do Banco dos Abrolhos no contexto da biodiversidade e equilíbrio ecológico da
porção sul do Oceano Atlântico.
Sobre a Rede Abrolhos
A Rede Abrolhos é uma iniciativa financiada pelo Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) no âmbito do Sistema Nacional de Pesquisa
em Biodiversidade (SISBIOTA), coordenada por pesquisadores da Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ),
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Maringá
(UEM).Fonte: Fapesp