Visando suprir a crescente demanda por sushi e
peixe enlatado, a pesca de atum com espinhel não apenas está colocando esta
espécie à beira da extinção, como também outros animais marinhos
Já está claro que, para que os ecossistemas marinhos resistam às consequências do aquecimento global, eles precisam ter a sua estrutura trófica preservada, e assim, é urgente que medidas sejam tomadas para barrar os imensos impactos da sobrepesca.
Com isso em mente, o Greenpeace lançou um relatório em que explica o que classifica como a prática de pesca mais escandalosa do planeta, o uso de espinhel. O método é aplicado para a captura dos valiosos atuns, que alimentam a crescente demanda por sushi e peixe enlatado (atum-branco).
Ninguém sabe os números exatos de quantas embarcações pescam com espinhel, mas estimativas alcançam mais de cinco mil. Cada uma delas pode armar uma linha com até 170 km de comprimento contendo três mil anzóis que capturam atuns, mas também tubarões, tartarugas, aves e muitos outros animais.
No caso dos tubarões, muitas embarcações se aproveitam do bycatch (‘pesca acidental’) para explorar o comércio de barbatanas, extremamente lucrativo e cruel, além de ser a causa de uma queda catastrófica no numero desses animais, essenciais para a saúde dos oceanos.
Essas embarcações, e principalmente aquelas que navegam em alto mar, operam sem regulamentação alguma e infringem as cotas impostas por leis internacionais, resultando em altos índices de pesca ilegal e não reportada. Trabalhadores em condições análogas à escravidão também são comumente encontrados, reporta o Greenpeace.
Tudo isso levou a uma massiva sobrepesca de várias espécies de atum (de olho grande, amarelo, branco e azul).
No caso da costa brasileira, as espécies de atum que podem ser encontradas são o Thunnus albacares (chamado de albacora ou amarelo), com uma população remanescente estimada em 30%, segundo o Greenpeace, e o Thunnus atlanticus.
Em setembro, o jornal Carta Capital denunciou que três embarcações estrangeiras podem ter sido responsáveis, em pouco mais de três meses, pela morte de ao menos 30 mil aves marinhas, entre albatrozes, petréis e gaivotas, por não obedecerem a normas básicas para a pescaria ditadas pela legislação brasileira.
Cerca de 90% do atum pescado no Brasil embarca em cargueiros japoneses.
Segundo a oceanógrafa Sylvia Earle, da National Geographic Society, maior referência mundial em oceanografia, 95% da população global de atum-azul (Thunnus thynnus) já virou sushi.
O Greenpeace pede por uma revolução nessa indústria para melhorar o manejo e o controle, reduzindo o poder de países como Taiwan, Coreia do Sul, China e Japão e estabelecendo cotas de pesca.
Batalha política
Na semana passada, delegados de 25 países encarregados de gerenciar o maior setor pesqueiro do mundo se encontrou na Austrália na reunião da Comissão de Pesca do Pacífico Central e Ocidental e nenhuma restrição significativa na captura do atum foi acordada.
Apesar dos apelos de países insulares para banir a pesca do atum no leste do Pacífico, um forte lobby de países como Estados Unidos, China e Coreia do Sul impediu a aprovação de medidas fortes para conter o declínio marcado nas populações do peixe.
Na semana anterior, a Comissão Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico se reuniu e, segundo Elizabeth Wilson, que preside da unidade de políticas oceânicas do Pew Charitable Trusts, os delegados de 55 países agiram positivamente para recuperar as populações de atum azul do Atlântico ao concordar em manter a cota atual de pesca, o que seria recomendado por cientistas.
Porém, ela lamenta que não houve avanços nas medidas para acabar com o declínio de espécies vulneráveis de tubarões e para a implantação de um sistema eletrônico visando ao rastreamento das capturas e comércio do atum azul.
"Infelizmente, os governos não conseguiram limitar a captura dos tubarões mako e porbeagle no Oceano Atlântico, apesar dos conselhos científicos claros de que a sobrepesca está acabando com as suas populações”, disse Wilson.