segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Poluição dos oceanos é global, afirma Chris Bowler, líder de expedição francesa

Equipe do projeto Tara Expeditions [ http://oceans.taraexpeditions.org/ ], com lixo recolhido no oceano

Chris Bowler, que analisou ecossistemas marinhos por 2 anos, diz ter achado plástico até na Antártida.

Líder de uma expedição francesa que rodou o mundo por dois anos e meio para analisar ecossistemas marítimos, Chris Bowler acredita ter encontrado a prova definitiva de que a poluição dos oceanos atingiu caráter global. A grande quantidade de plástico coletada por sua equipe em área próxima à Antártida, diz o pesquisador, mostra que nem mesmo locais mais remotos estão livres da interferência humana.

Em quatro pontos de observação no oceano glacial antártico e na Antártida, os cientistas da embarcação Tara Oceans registraram uma taxa de 50 mil fragmentos de plástico por quilômetro quadrado – concentração dez vezes superior à esperada por eles e comparável à média verificada em outros mares do planeta.

“Estando tão longe de áreas significativamente urbanas, achávamos que a Antártida ainda era um ambiente intocado”, afirma Bowler. “Procurávamos por fragmentos de plástico de poucos milímetros e o que achamos foram redes de pesca, sacos plásticos e até fibras sintéticas usadas em vestuários.”

Além do oceano glacial antártico, a expedição passou pelas águas do Atlântico, Pacífico e Índico para investigar os efeitos da mudança do clima em ecossistemas marinhos e biodiversidade.

“A maior parte do plástico que acaba no oceano vem de grandes centros urbanos do Hemisfério Norte, mas mesmo com as correntes oceânicas é difícil de acreditar que o material encontrado na Antártida esteja vindo de lá”, afirma o pesquisador. “É mais provável que venha de cidades ao Sul como Buenos Aires e Cape Town. Considerando que nós estamos fazendo plásticos há apenas 60 anos, eles atingiram a Antártida muito rapidamente.”

Ele admite que os efeitos na biodiversidade local ainda estão sendo estudados, mas projeta ao menos três possibilidades. Uma delas é a ingestão de plástico por peixes e aves marítimas, o que pode levar à inanição – o estômago fica tão cheio que os animais não conseguem se alimentar de verdade. Além disso, há a liberação de elementos tóxicos que se incorporam à cadeia alimentar e eventualmente podem chegar ao consumo humano. Por fim, os fragmentos interagem com plânctons e mudam a estrutura dos ecossistemas marinhos.

A quantidade de plástico encontrada na Antártida, no entanto, não foi tão diferente da média global de plástico nos oceanos ao redor do mundo – as exceções são o Pacífico Norte e o Atlântico. Uma nova expedição da Tara Oceans deve ocorrer nos próximos meses. Desta vez, segundo Bowler, a ideia será procurar por evidências da migração de plânctons entre o Pacífico e o Atlântico, algo que só se tornou possível por conta do derretimento do gelo polar. “Também esperamos encontrar novas espécies de plânctons, porque é uma área que ainda não foi muito estudada”, diz o biólogo, profissional do Centro Nacional Francês de Estudos Científicos (CNRS).

Bruno Deiro -O Estado de S. Paulo, 02-12-2012.

 

Envelhecimento reverso - Turritopsis dohrnii


Criaturas marinhas podem guardar o segredo da imortalidade humana, dizem cientistas.

A água-viva imortal foi descoberta por acaso pelo estudante alemão de biologia marinha Christian Sommer em 1988, enquanto ele passava suas férias de verão na Riviera Italiana. Sommer, que coletava espécies de hidrozoários para um estudo, acabou capturando a pequena criatura misteriosa — da espécie Turritopsis dohrnii —, ficando espantado com o que observou no laboratório.

Após examiná-la durante alguns dias, Sommer percebeu que a água-viva simplesmente se recusava a morrer, regredindo ao seu estado inicial de desenvolvimento até reiniciar o seu ciclo de vida outra vez, sucessivamente, como se sofresse um envelhecimento reverso.

Assim, de acordo com um artigo publicado pelo The New York Times, desde a descoberta de Sommer, a pequena água-viva imortal vem sendo estudada por cientistas, que tentam entender esse aspecto “Benjamin Button” da criatura. E compreender o funcionamento da incrível habilidade da água-viva poderia desvendar os mistérios da vida eterna.

Envelhecimento reverso

Os pesquisadores já descobriram que a Turritopsis dohrnii inicia seu incrível rejuvenescimento quando se encontra em uma situação de estresse ou ataque, e que durante esse período o organismo passa por um processo conhecido como transdiferenciação celular, ou seja, um evento atípico no qual um tipo de célula se transforma em outro, tal como ocorre com as células-tronco humanas.

Os cientistas também observaram que a água-viva imortal — que não é maior do que um pedacinho de unha — parece estar se espalhando extensivamente pelo mundo, no que os pesquisadores chamam de “invasão silenciosa”. Contudo, apesar do que já se sabe sobre a Turritopsis dohrnii, ninguém consegue entender como é que ela executa o envelhecimento reverso.

Imortalidade em cativeiro

Isso se deve à dificuldade de manter espécimes da água-viva em cativeiro, e existe apenas um cientista atualmente empenhado em desvendar o mistério da imortalidade. Seu nome é Shin Kubota, e ele trabalha sozinho e sem muito financiamento em um pequeno laboratório localizado em Shirahama, perto de Kyoto, no Japão.
Kubota, ao contrário de muitos outros cientistas, acredita que a chave para o segredo da imortalidade da Turritopsis dohrnii também pode revelar o segredo para a imortalidade humana, e é por essa razão que ele vem estudando essas minúsculas criaturas há 15 anos, dedicando pelo menos 3 horas por dia às pequenas imortais. Todos os dias!

Humanos e criaturas marinhas

Segundo o The New York Times, graças ao Projeto Genoma, concluído em 2003, os cientistas descobriram que os humanos compartilham o mesmo número de genes com uma série de animais, e que, de fato, existe uma incrível similaridade genética entre os humanos e as águas-vivas.
Além disso, a Turritopsis dohrnii não é a única criatura marinha com superpoderes. Existem outros hidrozoários, como a hidra, por exemplo, capazes de se regenerar e adotar outras formas indefinidamente, em um ciclo que também pode ser considerado imortal.

Implicações médicas

O fato de que os humanos compartilhem tantas semelhanças com as águas-vivas pode, na verdade, ter implicações médicas importantes, especialmente relacionadas à cura do câncer e à longevidade. Assim, conforme acreditam os cientistas, a resposta para muitos dos males sofridos pela humanidade pode estar nessas criaturas.

De qualquer forma, se algum dia o mistério sobre o envelhecimento reverso da Turritopsis dohrnii for solucionado, e realmente for possível aplicar esse conhecimento para prolongar a vida dos humanos indefinidamente, novas questões também devem surgir, como quem é que gostaria de viver eternamente e como seria um mundo povoado por criaturas imortais?