Chris Bowler, que analisou ecossistemas marinhos por 2
anos, diz ter achado plástico até na Antártida.
Líder de uma expedição
francesa que rodou o mundo por dois anos e meio para analisar ecossistemas
marítimos, Chris Bowler acredita ter encontrado a prova definitiva de que a
poluição dos oceanos atingiu caráter global. A grande quantidade de plástico
coletada por sua equipe em área próxima à Antártida, diz o pesquisador, mostra
que nem mesmo locais mais remotos estão livres da interferência humana.
Em quatro pontos de
observação no oceano glacial antártico e na Antártida, os cientistas da
embarcação Tara Oceans registraram uma taxa de 50 mil fragmentos de plástico
por quilômetro quadrado – concentração dez vezes superior à esperada por eles e
comparável à média verificada em outros mares do planeta.
“Estando tão longe de áreas
significativamente urbanas, achávamos que a Antártida ainda era um ambiente
intocado”, afirma Bowler. “Procurávamos por fragmentos de plástico de poucos
milímetros e o que achamos foram redes de pesca, sacos plásticos e até fibras
sintéticas usadas em vestuários.”
Além do oceano glacial
antártico, a expedição passou pelas águas do Atlântico, Pacífico e Índico para
investigar os efeitos da mudança do clima em ecossistemas marinhos e
biodiversidade.
“A maior parte do plástico
que acaba no oceano vem de grandes centros urbanos do Hemisfério Norte, mas
mesmo com as correntes oceânicas é difícil de acreditar que o material encontrado
na Antártida esteja vindo de lá”, afirma o pesquisador. “É mais provável que
venha de cidades ao Sul como Buenos Aires e Cape Town. Considerando que nós
estamos fazendo plásticos há apenas 60 anos, eles atingiram a Antártida muito
rapidamente.”
Ele admite que os efeitos
na biodiversidade local ainda estão sendo estudados, mas projeta ao menos três
possibilidades. Uma delas é a ingestão de plástico por peixes e aves marítimas,
o que pode levar à inanição – o estômago fica tão cheio que os animais não
conseguem se alimentar de verdade. Além disso, há a liberação de elementos
tóxicos que se incorporam à cadeia alimentar e eventualmente podem chegar ao
consumo humano. Por fim, os fragmentos interagem com plânctons e mudam a
estrutura dos ecossistemas marinhos.
A quantidade de plástico
encontrada na Antártida, no entanto, não foi tão diferente da média global de
plástico nos oceanos ao redor do mundo – as exceções são o Pacífico Norte e o
Atlântico. Uma nova expedição da Tara Oceans deve ocorrer nos próximos meses.
Desta vez, segundo Bowler, a ideia será procurar por evidências da migração de
plânctons entre o Pacífico e o Atlântico, algo que só se tornou possível por
conta do derretimento do gelo polar. “Também esperamos encontrar novas espécies
de plânctons, porque é uma área que ainda não foi muito estudada”, diz o
biólogo, profissional do Centro Nacional Francês de Estudos Científicos (CNRS).
Bruno Deiro -O Estado de
S. Paulo, 02-12-2012.
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