quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Vírus oceânicos



Nós, humanos, sabemos bem o que os virus podem causar conosco. O surto de gripe suína atormenta nossa sociedade. Porém a influência dos virus não para por aí. Nos oceanos, essas partículas possuem papel importantíssimo no ciclo do carbono. É claro que esse tipo de virus que atua nos oceanos não é o mesmo do Influenza, mas o "estrago" é muito pior.

Vírus são as formas de vida mais abundantes nos oceanos. São aproximadamente 4 x 10 a 30 potência de partículas em todo o oceano. Sendo que quanto maior a profundidade analisada maior a abundância de vírus, deste modo, nas zonas profundas dos oceanos (mais de 1.000 metros de profundidade) apresentam elevada quantidade de partículas virais.

No assoalho oceânico profundo, os vírus apresentam importância singular. Mas primeiro vamos entender como se organiza esse ambiente.
Por ser totalmente escuro, bastante frio e estar sob pressões gigantescas apresentam uma fauna característica. Sem luz, a produção de matéria orgânica se dá por outras maneiras que não a fotossíntese. Basicamente por quimiossíntese, onde compostos inorgânicos (H2S, por exemplo) são oxidados para possibilitar a formação de matéria orgânica a partir de moléculas com poucos carbonos em sua composição (CO2, CH4 e outras). Entretanto, esses ambientes profundos dependem em grande parte do carbono exportado de outras partes do oceano.

E é aí que entram os vírus.
Ao infectar organismos procarióticos (bactérias e archaeas) eles causam a lise dessas células. Lisar uma célula significa estourá-la e liberar seus componentes para o exterior. Sendo assim, transformam esses organismos em carbono orgânico dissolvido e particulado que estará disponível para a nutrição de outros procariotos não infectados. Esse ciclo sustenta uma biomassa de 160 Pg de carbono, isto é, 30-45% de toda a biomassa microbiana de todo o planeta Terra. É impressionante a ocorrência desse fenômeno nas zonas profundas, pois este ambiente apresenta de 10-20 vezes menos recursos orgânicos que as zonas costeiras.

Deste modo, os vírus são responsáveis pela liberação de 0,37-0,63 Gt de carbono por ano nos oceanos e este carbono liberado é responsável por 35% do metabolismo dos procariotos presentes no assoalho oceânico. Além disso, facilitam a ciclagem de elementos como nitrogênio e fósforo neste ambiente.
Antes negligenciados, os virus se mostram como componente crucial nos ciclos biogeoquímicos oceânicos e global.

Diferente do vírus da gripe suína, os vírus oceânicos são essenciais para a manutenção da vida. Pelo menos da vida de organismos marinhos de grandes profundidades.

Referência:
Danovaro, R., Dell'Anno, A., Corinaldesi, C., Magagnini, M., Noble, R., Tamburini, C., & Weinbauer, M. (2008). Major viral impact on the functioning of benthic deep-sea ecosystems Nature, 454 (7208), 1084-1087 DOI: 10.1038/nature07268

APERITIVO - CHARGE ANIMAL 1



"- Onde nós estamos na cadeia alimentar, pai?
- Nós somos os aperitivos"
Fonte: Animal Crackers by Fred Wagner