terça-feira, 29 de novembro de 2011

Pesca de peixe em Abrolhos precisa de mangues e recifes

Estudo inédito realizado na região de Abrolhos comprova que a conexão entre manguezais e recifes de corais é essencial no ciclo de vida do Dentão ou Vermelho, espécie de alto valor comercial cuja captura anual chega a 3.000 toneladas no país.

Um mapeamento até então desconhecido do ciclo de vida de uma importante espécie de peixe para o país demonstra que a conectividade entre manguezais e recifes é essencial para sua sobrevivência. Conduzido ao longo de um ano por pesquisadores do Brasil e exterior, com apoio da Conservação Internacional (CI-Brasil), o estudo apresentou pela primeira vez os padrões de movimentação do vermelho (Lutjanus jocu) através de diferentes hábitats na Região dos Abrolhos, o maior e mais biodiverso complexo recifal do hemisfério Sul. A descoberta, publicada recentemente na revista Estuarine, Coastal and Shelf Science, oferece informações-chave para o manejo da espécie, que já apresenta acentuado declínio em seus estoques.
A pesquisa mostra que o tamanho do vermelho é menor nos estuários, intermediário nos recifes costeiros e maior na área do Parque Nacional Marinho (Parnam) dos Abrolhos, indicando que a espécie migra ao longo da plataforma continental na medida em que cresce. Confirmando o estudo recém publicado, dados provenientes da pesca comercial revelam que os maiores peixes, entre 70 e 80cm, são encontrados em recifes ainda mais profundos e afastados da costa. Foram investigadas 12 áreas que representam diferentes hábitats costeiros e recifais, abrangendo a Reserva Extrativista (Resex) de Cassurubá, os recifes Parcel das Paredes e Sebastião Gomes e o Parnam dos Abrolhos.
Segundo Guilherme F. Dutra, diretor do Programa Marinho da CI-Brasil, apesar de a conectividade entre ambientes costeiros e marinhos ser bastante difundida e aceita, poucos trabalhos foram exitosos em demonstrá-la de maneira efetiva. “Esse é o primeiro estudo que consegue provar a relação entre manguezais e recifes para essa espécie que tem grande importância comercial”, comemora.
Ciclo desprotegido - As novas informações sobre o ciclo de vida do vermelho alertam para a condição de vulnerabilidade da espécie cujos estudos recentes indicam redução nos estoques no Banco dos Abrolhos devido à sobrepesca. Segundo informações dos desembarques, são capturados pelo menos 3.000 toneladas da espécie por ano nessa região, numa atividade que envolve cerca de 20 mil pescadores.
“As medidas de manejo adotadas para assegurar a exploração sustentável dos vermelhos não são suficientes”, salienta Rodrigo Moura, professor da Universidade Estadual de Santa Cruz e um dos co-autores do estudo. Ele explica que atualmente não há qualquer restrição às capturas dos adultos durante a fase reprodutiva – entre junho e setembro – ou tamanhos mínimos de comercialização que assegurem que os peixes capturados tenham completado pelo menos um ciclo reprodutivo, o que ocorre acima de 35cm.
Para chegar até a idade adulta, o dentão precisa de refúgio em manguezais e recifes próximos à costa, mesmo em áreas liberadas para pesca. “Uma vez que a espécie migra através da plataforma continental, está claro que áreas protegidas em unidades isoladas, tais como o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, não são efetivas para proteger as diversas etapas do ciclo de vida”, enfatiza Moura. “Isso comprova que é muito importante que tenhamos uma rede de áreas protegidas na região dos Abrolhos que esteja funcionando de forma integrada para de fato dar condições a essas espécies sobreviverem”, completa Dutra.
Para Ronaldo Francini-Filho, co-autor do estudo e professor da Universidade Federal da Paraíba, além dos instrumentos de proteção contra a pesca predatória serem insuficientes, os estuários e manguezais no Brasil têm sido crescentemente impactados pela expansão urbana, portuária e de atividades agroindustriais altamente degradadoras, tais como a carcinicultura (criação de camarões de água salgada). “O que vem ocorrendo nestes locais evidencia claramente as críticas lacunas de proteção e manejo”.
Esta pesquisa soma-se a outros trabalhos empreendidos na região dos Abrolhos e que integram um esforço conjunto entre o meio científico e a Conservação Internacional para aprofundar o conhecimento sobre a sua riqueza biológica da e oferecer ferramentas para o uso sustentável e a conservação de sua biodiversidade. “A ciência tem apontado soluções e caminhos para que as pescarias marinhas se transformem em uma atividade geradora de riqueza com sustentabilidade. Apesar disso, a incorporação dessas lições pelas agências responsáveis pelo setor pesqueiro tem sido excessivamente lenta”, avalia Francini-Filho.

Sobre a espécie Lutjanus jocu - Associado aos ambientes rochosos e coralinos, o dentão - ou vermelho - é um dos mais importantes recursos pesqueiros capturados em ecossistemas recifais no Atlântico Ocidental. Das 19 espécies da família Lutjanidade que ocorrem no Brasil, a espécie estudada está entre as cinco mais importantes para a pesca. Apesar de sua importância e ampla distribuição, com ocorrência da Flórida ao sudeste brasileiro, havia pouco conhecimento sobre o ciclo de vida da espécie, inclusive sobre seu deslocamento através de diferentes ecossistemas marinhos e costeiros, dificultando o estabelecimento de políticas adequadas de manejo e conservação da espécie.

Os autores
• Rodrigo Leão de Moura - Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade, Universidade Estadual de Santa Cruz – moura.uesc@gmail.com – (73) 8803-2724
• Ronaldo Bastos Francini-Filho - Departamento de Engenharia e Meio Ambiente da Universidade Federal da Paraíba - rofilho@yahoo.com– (83) 8827-4458
• Carolina Viviana Minte-Vera - Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura/Departamento de Biologia da Universidade Estadual de Maringá – cminte@nupelia.uem.br - (44) 3011 4622
• Eduardo M. Chaves, Programa de Pós-Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais, Universidade Estadual de Santa Cruz
• Kenyon C. Lindeman, Departamento de Sistemas Marinhos e Ambientais, Instituto de Tecnologia da Flórida

Financiamento
O estudo foi financiado pelo Programa “Ciência para a Gestão de Áreas Marinhas Protegidas” (MMAS, da sigla em inglês) - uma iniciativa da Conservação Internacional que busca contribuir para o planejamento, diagnóstico e monitoramento de Áreas Marinhas Protegidas, aliando conhecimento científico e práticas de conservação - que tem o patrocínio da Fundação Gordon e Betty Moore.
Contou também com o suporte financeiro do Conservation Leadership Programme, da National Geographic Society, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq).
Os pesquisadores fazem parte da Rede Abrolhos, uma iniciativa financiada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia no âmbito do Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade (Sisbiota), visando ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira e melhorar a capacidade de resposta a mudanças globais, associando as pesquisas à formação de recursos humanos, educação ambiental e divulgação científica. O trabalho de divulgação recebeu o apoio financeiro da Fondation Veolia Environnement.
Para mais:
Isabela Santos –i.santos@conservacao.org– (31) 3261-3889
Gabriela Michelotti – g.michelotti@conservacao.org – 61 3226 2491
João Paulo Mariano – j.souza@conservacao.org - 61 3226 2491 (Ramal - 120)

Peixe - leão (Nome Científico: Pterois volitans)

Nome Científico: Pterois volitans
Família: Scorpaenidae
Ordem: Scorpaeniformes

Distribuição: Nativo dos oceanos Índico e Pacífico, hoje é encontrado no Oeste do Oceano Atlântico e no Mar do Caribe, onde foi introduzido, segundo o biólogo João Paulo Krajewski, provavelmente vindo do aquário de algum criado durante o furacão Andrew, em 1992, na Flórida.
Habitat: De preferência, os recifes de corais. Tanto que é avistado na Grande Barreira de Corais da Austrália, com seus 2.300 quilômetros de extensão.
Alimentação: Pequenos peixes. Em cativeiro, também se alimenta de camarões.
Reprodução: Ovíparos, sua desova normalmente acontece à noite.
Este peixe, exótico (ou invasor), é conhecido também pelos nomes de peixe-peru e peixe-dragão. Nos Estados Unidos e Caribe a sua chegada pode ser considerada devastadora.
Estudos revelam que pelo menos 10 espécies de peixes fazem parte de seu cardápio diário e podem sofrer uma redução drástica na população. Venenoso, ele é um predador voraz. Geralmente quando sai à caça, encurrala as presas com seus espinhos (ente 12 e 13 dorsais, 2 pélvicos e 3 anais) e em movimentos rápidos. Depois as engole por inteiro.
Visualmente é conhecido por sua coloração listrada, que pode ser nas cores vermelha, marrom, laranja, amarela, preta ou branca. Além disso, possui tentáculos acima dos olhos e abaixo da boca, e nadadeiras peitorais.
Embora seja nativo da região Indo-Pacífico, algumas espécies são encontradas em outras partes do mundo. Ele costuma viver até 15 anos. O peixe-leão é considerado relativamente pequeno (chega a 43 centímetros de comprimento e a cerca de 200 gramas).
É mais usado como peixe ornamental. Na natureza se abriga em cavernas e fendas, de onde sai para se alimentar à noite. Nos humanos o seu veneno costuma causar dor intensa no local, seguida de um edema. A vítima pode sentir náuseas, tontura, fraqueza muscular, respiração ofegante e dor de cabeça. Só para saber: para efeito de primeiros-socorros, deve-se fazer a imersão do local afetado em água quente (43-45ºC) por 30 a 40 minutos ou até a dor diminuir.
Nem precisa dizer, mas normalmente essa espécie é um perigo para mergulhadores e outros animais marinhos.


O consumo da carne do peixe-leão causa envenenamento


A tentativa de usar o peixe-leão (Pterois volitans) na culinária, como forma de diminuir a propagação dessa espécie invasora em Saint Martin, ilha localizada no Caribe, caiu por terra. Ambientalistas alertam os moradores para que não consumam a sua carne, devido ao risco de contaminação por uma toxina natural.
Essa espécie, nativa dos oceanos Índico e Pacífico, que colonizou grandes áreas da região após escapar de um tanque da Flórida, nos Estados Unidos, em 1992, tem feito estragos na ilha. Desde que foi encontrada no território holandês da ilha em julho do ano passado, ela só vem multiplicando desde então.
O peixe-leão, como o nome bem sugere, devora peixes nativos e crustáceos, colocando em risco a biodiversidade marinha do local. Os pesquisadores observaram apenas um exemplar comendo até 20 outros peixes em menos de 30 minutos. Para a União Mundial de Conservação, o peixe-leão-vermelho é uma das piores espécies invasoras do mundo.
Segundo Tadzio Bervoets, chefe da Fundação St. Maarten para Natureza, nos exemplares de peixe-leão capturados foram encontrados biotoxinas que levam ao envenenamento por ciguatera (intoxicação alimentar causada pelo consumo de peixes). É uma ameaça que tem sido crescente.
Pessoas que comeram peixe contaminado podem sentir dor abdominal, náuseas, vômitos, diarréia, formigamento e dormência. A maioria dos pacientes se recupera em poucos dias, mas há casos raros de paralisia e até morte. "Isso significa que não podemos promover com segurança o consumo deste peixe", disse Bervoets.
A Administração de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) ainda não tem um relatório oficial sobre as doenças associadas ao consumo de filés de peixe-leão. “Mas em áreas endêmicas de ciguatera, as toxinas foram detectados em níveis superiores ao recomendado pela FDA”, disse o porta-voz do departamento, Douglas Karas. Os cientistas ainda pesquisam o que mantém peixe-leão fora de seu ambiente nativo.