sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Corais vivem mais de 4.000 anos
Espécies são encontradas nas profundezas do Pacífico, perto do Havaí. Criaturas têm crescimento muito vagaroso, de acordo com estudo.
O coral Gerardia (que pode ser visto na foto acima) pode ser encontrado a profundidades que vão de 300 m a 500 m em águas havaianas. Esses invertebrados usam protuberâncias do solo marinho para se fixar e crescer.
Datações impressionantes feitas por pesquisadores americanos mostram que eles têm 4.265 anos e 2.742 anos, respectivamente. Estão, portanto, entre os seres vivos mais antigos da Terra. Ao realizar datações por carbono-14, semelhantes às que servem para estimar a idade de fósseis, os pesquisadores chegaram às idades inacreditáveis citadas acima.
Os corais são organismos coloniais, ou seja, vários "indivíduos" se juntam num só corpo e crescem juntos, dividindo funções como captura de alimento e excreção. Ao que parece, enquanto partes desses superorganismos vão morrendo, outras crescem no lugar, chegando há vários milênios de existência contínua num único "corpo".
Segundo os pesquisadores, não é incomum que animais de regiões muito profundas tenham crescimento lento e grande longevidade, mas o caso dos corais é fora de série.
É praticamente certo que eles sejam os organismos coloniais mais antigos da Terra. Como eles são explorados para fazer jóias, os cientistas alertam que isso pode levar ao extermínio das espécies, uma vez que elas crescem muitíssimo devagar.
Fonte: Reinaldo José Lopes (adap.)
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Pesquisa mostra que plástico contamina o Atlântico Norte
Foram encontrados fragmentos em todas as amostras de água do oceano colhidas no início do Projeto 5 Gyres, que estuda a poluição marinha por plástico
“Todas as amostras obtidas da superfície no meio do Atlântico continham fragmentos de plástico, não importava onde deixávamos cair nosso equipamento de arrasto,” diz Anna Cummins. Para lançar o Projeto 5 Gyres, ela e o marido, Marcus Eriksen, velejaram pelo Atlântico Norte entre St. Thomas, na Ilhas Virgens, e as Bermudas. No final de janeiro, o casal deixou as Bermudas com destino aos Açores. Nessa segunda perna de uma travessia transatlântica sem precedentes, velejam pelo Mar de Sargaço, uma região no meio do Atlântico Norte.
A poluição marinha por plástico, que pode ameaçar a saúde humana, é normalmente conhecida pelo “Grande Mancha de Lixo do Pacífico”, um enorme acúmulo de plástico no Pacífico Norte. O Projeto 5 Gyres busca documentar esses detritos artificiais nos cinco giros oceânicos do planeta – as regiões onde as correntes marinhas formam movimentos circulares.
“Este é um problema global, temos visto evidência de poluição por plástico em todos os lugares do mundo e isto está piorando”, diz o Capitão Charles Moore, o fundador da Algalita Marine Research Foundation (AMRF – Fundação de Pesquisa Marinha Algalita ). O Projeto 5 Gyres é uma colaboração entre a AMRF, Livable Legacy e a Pangaea Explorations e pode ser acompanhado aqui (http://www.5gyes.org).
Cummins e Eriksen, diretores do projeto, vêm trabalhando extensivamente com o Capitão Moore. O montante de plástico que eles encontraram durante a perna inicial de 1.070 milhas, ao largo do Giro do Atlântico Norte, a bordo do veleiro de regata Sea Dragon, é similar ao que eles viram no Pacífico. “Nos sargaços, encontramos tampas de garrafas, cápsulas de balas de revólver, engradados e até mesmo botas de borracha”, diz Cummins.
No mar com outros onze tripulantes, Cummins e Eriksen estão aprofundando o foco de suas pesquisas anteriores na AMRF, que buscavam quantificar os plásticos flutuantes, incluindo os fragmentos de microplástico consumidos por peixes. Agora eles buscam entender como esses detritos afetam os peixes.
“As partículas de plástico no mar agem como magnetos para substâncias químicas tais como DDT, PCBs, retardadores de chama e outros poluentes,” diz Cummins. “O Projeto 5 Gyres está trabalhando para avançar nossas pesquisas anteriores com os testes buscando determinar se esses químicos se acumulam nos peixes, navegam ao longo da cadeia alimentar e terminam em nossos pratos de jantar.”
Um dos patrocinadores do projeto é a Blue Turtle. A Pangaea Explorations está fornecendo o veleiro de 72 pés Sea Dragon, no qual o casal velejará para coletar amostras da superfície do oceano, do fundo do mar e do conteúdo do estômago e dos tecidos de peixes para análise.
No final deste ano, o Sea Dragon cruzará o Giro do Atlântico Sul, indo do Rio de Janeiro à Cidade do Cabo, na África do Sul. Esta será a primeira travessia desse tipo nos últimos 30 anos no hemisfério sul. Após está travessia, Cummins e Eriksen planejam velejar no Giro do Pacífico Sul.
Fonte: Agência Envolvede / Projeto 5 Gyres
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Educação ambiental poderá ser custeada por produtos descartáveis
Além disso, o projeto determina a aplicação em planos, programas e projetos de educação ambiental de pelo menos 20% da arrecadação das multas por descumprimento da legislação ambiental. Os recursos provenientes de ambas as medidas deverão ser depositados na carteira de educação ambiental do Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA).
O projeto será analisado em caráter conclusivo pelas comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. (Fonte: JB Online 11.02.10)
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Os animais salvam o planeta!
O canal Animal Planet há tempos atrás criou uma sequência de vídeos bem divertidos, protagonizados por animais que ensinam que as pequenas atitudes podem fazer a diferença no final.
Os vídeos postados são sobre descarte de lixo não-biodegradável e consumo irresponsável de energia. A ideia é mostrar como o consumo irresponsável pode prejudicar a todos em sua volta.
Os outros vídeos da série podem ser conferidos no You Tube.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Peixe-limpador pune colegas que não satisfazem a clientela
Comportamento do bedel dos mares é objeto de estudo na ‘Science’
Cliente insatisfeito troca de fornecedor. Com isso em mente, o bodião-limpador (o nome científico é Labroides dimidiatus) aplica uns cascudos nos colegas que pisam na bola na tarefa de remover fungos, bactérias e parasitas do corpo de peixes maiores.
A atitude um tanto indigna é para preservar o contrato. Com a relação simbiótica, todo mundo sai ganhando: o bodião enche a barriga; o contratante fica limpinho, livre de parasitas.
A pesquisa que descreve a ação do peixe-bedel sai na revista “Science”. Nichola Raihani, da Sociedade Zoológica de Londres, mostra que os peixes limpadores praticam uma espécie de “punição por terceiros”, em que indivíduos da comunidade que não foram diretamente prejudicados pela conduta de um parceiro tomam as dores do ofendido e castigam quem não fez o serviço direito, em defesa do interesse do cliente.
Dois detalhes interessantes: primeiro, os alvos de bronca do peixe-pau-mandado são sempre as fêmeas; segundo, aparentemente as fêmeas não ligam muito para o conceito de satisfação total do cliente.
Elas às vezes causam toda essa confusão por pura gula. Além de parasitas, acabam avançando nas mucosas, causando ferimentos.
Diante do exemplo oferecido por tais habitantes dos mares, os cientistas se animaram. Para eles, o comportamento do peixe-limpador ajuda a compreender melhor a origem evolutiva de comportamentos humanos mais complexos, como a solidariedade.
Também participaram do estudo pesquisadores das universidades de Queensland e de Neuchâtel.
Fonte: Science
Cientistas conseguem vídeo raro de ‘monstro’ do mar
Peixe-remo pode chegar a 17 metros de comprimento.
Bicho é parecido com uma serpente gigante.
Pesquisadores da Universidade do Estado da Louisiana, nos Estados Unidos, conseguiam uma imagem inédita do intrigante peixe-remo navegando no fundo do oceano. O filme foi feito no Golfo do México por meio de uma máquina não tripulada, e os cientistas acreditam que essa é a primeira vez que se filma o animal em seu habitat natural.
O peixe-remo (Regalecus glesne) é uma espécie rara que vive em águas profundas. Ele pode chegar a 17 metros de comprimento, e só costuma ser visto quando está morrendo e sobe à superfície. Seu “topete” e suas barbatanas incomuns sempre despertam a curiosidade de quem topa com um deles. Acredita-se que relatos antigos sobre serpentes gigantes no mar estão relacionados a esse peixe.
Fonte: BBC
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Vírus oceânicos
Nós, humanos, sabemos bem o que os virus podem causar conosco. O surto de gripe suína atormenta nossa sociedade. Porém a influência dos virus não para por aí. Nos oceanos, essas partículas possuem papel importantíssimo no ciclo do carbono. É claro que esse tipo de virus que atua nos oceanos não é o mesmo do Influenza, mas o "estrago" é muito pior.
Vírus são as formas de vida mais abundantes nos oceanos. São aproximadamente 4 x 10 a 30 potência de partículas em todo o oceano. Sendo que quanto maior a profundidade analisada maior a abundância de vírus, deste modo, nas zonas profundas dos oceanos (mais de 1.000 metros de profundidade) apresentam elevada quantidade de partículas virais.
No assoalho oceânico profundo, os vírus apresentam importância singular. Mas primeiro vamos entender como se organiza esse ambiente.
Por ser totalmente escuro, bastante frio e estar sob pressões gigantescas apresentam uma fauna característica. Sem luz, a produção de matéria orgânica se dá por outras maneiras que não a fotossíntese. Basicamente por quimiossíntese, onde compostos inorgânicos (H2S, por exemplo) são oxidados para possibilitar a formação de matéria orgânica a partir de moléculas com poucos carbonos em sua composição (CO2, CH4 e outras). Entretanto, esses ambientes profundos dependem em grande parte do carbono exportado de outras partes do oceano.
E é aí que entram os vírus.
Ao infectar organismos procarióticos (bactérias e archaeas) eles causam a lise dessas células. Lisar uma célula significa estourá-la e liberar seus componentes para o exterior. Sendo assim, transformam esses organismos em carbono orgânico dissolvido e particulado que estará disponível para a nutrição de outros procariotos não infectados. Esse ciclo sustenta uma biomassa de 160 Pg de carbono, isto é, 30-45% de toda a biomassa microbiana de todo o planeta Terra. É impressionante a ocorrência desse fenômeno nas zonas profundas, pois este ambiente apresenta de 10-20 vezes menos recursos orgânicos que as zonas costeiras.
Deste modo, os vírus são responsáveis pela liberação de 0,37-0,63 Gt de carbono por ano nos oceanos e este carbono liberado é responsável por 35% do metabolismo dos procariotos presentes no assoalho oceânico. Além disso, facilitam a ciclagem de elementos como nitrogênio e fósforo neste ambiente.
Antes negligenciados, os virus se mostram como componente crucial nos ciclos biogeoquímicos oceânicos e global.
Diferente do vírus da gripe suína, os vírus oceânicos são essenciais para a manutenção da vida. Pelo menos da vida de organismos marinhos de grandes profundidades.
Referência:
Danovaro, R., Dell'Anno, A., Corinaldesi, C., Magagnini, M., Noble, R., Tamburini, C., & Weinbauer, M. (2008). Major viral impact on the functioning of benthic deep-sea ecosystems Nature, 454 (7208), 1084-1087 DOI: 10.1038/nature07268
APERITIVO - CHARGE ANIMAL 1
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Lanternas Vivas
"……it is not the property of fire alone to give light;…small drops of the water, struck off by the motion of the oars in rowing, seem sparkling and luminous.”
(“ produzir luz não é uma propriedade exclusiva do fogo;…pequenas gotas da água, espirradas pelos remos, parecem faíscas iluminadas” - Francis Bacon, 1605)
LANTERNAS VIVAS
Acho que James Cameron um dia quis ser Oceanógrafo.
Após dirigir e afundar o Titanic no Oceano Atlântico Norte, o diretor e produtor de Avatar mais uma vez buscou no ambiente marinho a inspiração para criar os personagens e cenários de seus filmes. Além das árvores titânicas, fazem parte do seu ecossistema incrivelmente criativo da floresta de Pandora, mega-criaturas meio vegetais meio animais que se contraem ao serem tocadas, igualzinho a um poliqueta marinho. Plagiou cuspida e escarradamente (no bom sentido, é claro) a contração pulsativa das medusas marinhas locomovendo-se em suspensão na água, com aquelas medusinhas incandescentes, as tais sementes da Árvore da Vida.
Mas o genial diretor inspirou-se no mar principalmente porque usou e abusou de uma propriedade biológica quase que exclusivamente marinha, na decoração de seus cenários épicos e biotecnológicos: A bioluminescência. Bioiluminou com fileiras de pontinhos luminosos a pele azul dos Na'Vi, seus personagens nativos habitantes das florestas de Pandora, meio-humanos meio panteras, com 3 metros de altura e um belo rabo felino. O padrão de distribuição das luzinhas no rosto e nas costas dos Na'Vi lembra muito as fileiras de fotóforos sobre a pele de peixes marinhos de zonas profundas mesopelágicas (200 - 1000 metros). Como os do gênero Porichthys, os mictofídeos e o peixe pescador, dentre outros. Além do mais, o rabo dos Na'Vi tem a ponta ramificada em tentáculos encapsulados por uma estrutura fálica de cor avermelhada, certamente inspirados nos pogonóforos gigantes, um grupo de vermes abissais sem boca nem trato digestivo, que dominam a paisagem das fontes hidrotermais onde alimentam-se através da simbiose com bactérias quimiossintetizantes redutoras de sulfetos. Parece mesmo ficção científica.
A natureza me apresentou à bioluminescência logo na infância enquanto admirava vaga-lumes anunciando as primeiras noites de verão em Ubatuba. Depois, nadando no mar de noite, muito antes de ter visto o filme Tubarão, enquanto chacoalhava a água abaixo da superfície ou arrastava o pé na areia molhada da maré baixa, estimulando mecanicamente a emissão de luz verde-azulada em Noctiluca scintillans, um bicho unicelular do grupo dos dinoflagelados e comedor voraz de ovos de peixes. Esses são os verdadeiros responsáveis pelo show de bioluminescência da famosa Baia Fosforescente em Porto Rico que iluminam os rastros da natação dos golfinhos, encantando os turistas.
Não confunda bioluminescência nem com fluorescência nem com fosforescência. Fluorescência é a emissão de fótons por determinadas moléculas como a clorofila que se excita ao absorver fótons da luz solar e retransmite imediatamente os mesmos fótons de volta para o meio externo quando relaxam voltando ao estado anterior. Fosforescência é a propriedade que certas substâncias químicas tem de emitir luz no escuro, como por exemplo algumas tintas usadas em placas de sinalização, ponteiros de relógio e a tecla do interruptor de luz. Em nenhum desses casos ocorre produção real de luz.
Na bioluminescência a luz é produzida quimicamente como resultado da oxidação de uma proteína reativa chamada luciferina (adivinha se o nome não vem de Lúcifer?) que se transforma em oxiluciferina. Essa oxidação é catalizada pela enzima luciferase. O sistema luciferina-luciferase é quase que universal na bioluminescência. Em alguns casos ambos substrato e enzima combinam-se com o oxigênio, formando um terceiro composto; uma fotoproteina que nada mais é do que uma “bombinha molecular de luz” pronta pra explodir, cujo pavio é o estímulo de um íon específico, normalmente o Cálcio, um dos elementos químicos mais abundantes na água do mar. Esse mecanismo de emissão luminosa pode, portanto, ser controlado pelo sistema nervoso ou hormonal dos animais marinhos para atrair, espantar, seduzir e enganar predadores, presas e parceiros sexuais.
De fato, a principal fonte de luz dos oceanos é a bioluminescência. Faz sentido, uma vez que 99% do espaço oceânico sempre esteve permanentemente no escuro total, desde os primórdios da formação dos mares onde a bioluminescência deveria ter alguma vantagem para a sobrevivência dos organismos que a produziam. Só a vida em suspensão na água poderia economizar energia suficiente para ser gasto na emissão de luz, coisa que seria inconveniente em pássaros e mamíferos que precisam economizar energia para voar, manter a temperatura do corpo, etc. Ela ocorre em quase todos os filos marinhos, exceto nos vegetais, répteis, aves e mamíferos. É mais freqüente no zooplâncton, os animais da comunidade planctônica representados por protozoários e invertebrados com mobilidade restrita e, portanto, transportados passivamente pelas correntes.
Curioso como a natureza evoluiu a mesmíssima reação bioquímica em animais marinhos tão diferentes, como lulas, peixes, bactérias e protozoários, sem nenhuma relação taxonômica entre si. Quanto mais no vagalume que não tem nada a ver com o mar. O mais curioso é não apenas o fato da bioluminescência ter surgido no mínimo 40 vezes em ramos distantes da árvore cronológica evolutiva, a verdadeira “Árvore da Vida”, como também são sempre os mesmos tipos de moléculas envolvidas no processo, ou seja, o sistema luciferina-luciferase aparecendo em momentos e em ramos distintos da árvore evolutiva da biosfera. As moléculas de luciferina e luciferase específicas para cada grande grupo biológico podem ter pequenas diferenças estruturais, mantendo sempre a mesma capacidade de emitir luz quando a reação é estimulada mecanicamente, hormonalmente ou nervosamente na presença de oxigênio.
A bioluminescência sofre de “resiliência evolutiva”. Ou seja, se todos os organismos que hoje produzem bioluminescência na terra, no ar ou no mar se extinguissem de uma só vez, e com eles a reação [luciferina + oxigênio (+ luciferase) oxiluciferina + luz], haveria uma enorme probabilidade de surgir de novo em poucos milhões de anos, em bactérias ou em qualquer outro grupo animal. É um processo biológico singular que a natureza insiste em recriar e manter eternamente, envolvendo sempre os mesmos compostos reativos. Isso nos leva a crer que ou a bioluminescência é uma propriedade necessária para a sobrevivência das espécies que a produzem, e não se sabe ainda muito bem por que, ou é apenas um fruto teimoso da Árvore da Vida.
É fácil para a natureza recriar a bioluminescência nas condições ambientais estáveis das profundezas marinhas. Um habitat onde, apesar da altíssima pressão, quase não há variações de temperatura e salinidade, com pouca turbulência, nenhuma corrente intensa e, evidentemente, ausência total de luz. Isso é o oposto do que ocorre na “zona eufótica”, como é a chamada a camada superficial do mar iluminada pelo sol, onde a fotossíntese das algas produz a matéria orgânica que abastece quase toda a teia alimentar marinha. Além disso, se comparado com rios e lagos, o mar profundo é muito mais transparente, uma condição sine qua non para transmitir a luz, e tem muito mais íons essenciais para as reações bioquímicas (p.ex., Cálcio). Todas essas propriedades ambientais justificam perfeitamente a origem e a ocorrência diversificada da bioluminescência no mar. Em água doce ocorre apenas em um gênero de caracol e larvas de alguns insetos. Em habitats terrestres, além do já famoso vagalume, ocorre em vários gêneros de fungos que colonizam troncos de árvore em decomposição, e raras espécies de besouros, minhocas, centopéias, mosquitos e caramujos.
Obviamente presume-se que na hierarquia evolutiva a capacidade de produzir quimicamente a luz tenha surgido primeiro nas bactérias marinhas primitivas, antes até da reação da fotossíntese que produz oxigênio. Antes de surgirem os vegetais, não havia oxigênio livre na atmosfera primitiva que, como na Pandora de Cameron, era basicamente formada por metano e amônia. Só não deu tempo dos Na’Vi evoluírem aqui porque a radiação UV literalmente fritava qualquer organismo vivo que pusesse a cara para fora do mar, quanto mais aqueles que ousassem evoluir fora d’água. Os raios UV da nossa Gaia primitiva eram tão intensos que penetravam mais fundo na água do mar provocando mutações genéticas nas bactérias. Dai a hipótese sugerindo que a função do sistema bioluminescente das bactérias primitivas, cuja intensidade luminosa era tão fraca que o olho humano não teria sido capaz de enxergar, era reparar através de uma foto reação qualquer, as moléculas de DNA danificadas pela mutação, mantendo intacta a estrutura do genoma bacteriano.
Outra hipótese esta associada à afinidade bioquímica entre a bioluminescência e a respiração. Ambas usam os mesmos aparatos bioquímicos e compostos intracelulares usados na oxidação do alimento ingerido, para se obter a energia química que todos os seres vivos necessitam para sobreviver. Sem a tal da adenosina tri-fosfato (o ATP) uma bactéria não se divide e você nem pisca. Quando algo de errado ocorria em uma determinada etapa do processo respiratório, ao invés de produzir energia química para ser usada no metabolismo celular, a mitocôndria produzia energia luminosa que era imediatamente excretada para fora da célula.
Finalmente, a explicação para a evolução da bioluminescência nas bactérias marinhas pode ter sido a necessidade de se livrar de radicais livres, moléculas de oxigênio extremamente reativas que, evidentemente, começaram a se concentrar após a produção em massa de oxigênio pela fotossíntese. Também não havia oxigênio na água do mar onde os processos vitais eram exclusivamente anaeróbicos. Agora imagine você, um ser anaeróbico deparando-se com uma molécula de oxigênio querendo oxidá-lo, como fazem os radicais livres gerando células cancerígenas. A bactéria tinha que se defender dessa molécula mortal aprisionando-a em algum composto inerte. Talvez a luciferina tenha evoluído justamente para isso. Um mecanismo primitivo de defesa que antecedeu a respiração aeróbica (?) É óbvio que a evolução da respiração aeróbica foi induzida pela presença do então abundante oxigênio, que após oxidar todos os metais dissolvidos na água do mar, só se tornaria inerte mais tarde ao oxidar os alimentos no sistema aeróbico do qual extrai-se a energia química para as funções metabólicas. Entretanto, a fotoreação da bioluminescência se manteve na era aeróbica porque mesmo não sendo mais tão necessária para anular o poder oxidante das moléculas de oxigênio, ela não induzia a seleção natural porque não fazia mal algum.
A persistência da bioluminescência na base da Árvore da Vida primitiva criou as oportunidades de evolução no reino animal, desenvolvendo-se em milhares de espécies da metade dos filos taxonômicos que existem hoje na Biosfera terrestre. Na verdade, a origem evolutiva da bioluminescência no reino animal é uma incógnita para os evolucionistas. Um dos enigmas da Teoria da Evolução. Por que essa característica animal pulou de galho em galho na árvore filogenética, ao invés de seguir uma linha evolutiva definida? Afinal, a emissão de luz só faz sentido co-evoluindo com o olho que, aliás, é outro caso que Sir Darwin preferiu incluir nas exceções da seleção natural, juntamente com os órgãos elétricos das enguias; o velho Charles nunca conseguiu entender qual vantagem um órgão primitivo precursor do olho, isto é um “meio-olho”, teria na sobrevivência de um animal evoluindo por seleção natural em um olho completo com toda sua complexidade biológica, física e mecânica.
A bioluminescência surgiu muito mais tarde no reino animal provavelmente através da simbiose com bactérias bioluminescentes, uma associação que ainda persiste em peixes e lulas. Alguns desses animais mantêm uma cultura de fotobactérias (Vibrio fisheri) em fotóforos específicos, às vezes próximos ao olho para iluminar o alimento (uma lanterninha), às vezes em glândulas no trato digestivo, já pensando em expelir uma gosma luminosa para enganar o predador. Algumas espécies de lulas usam seus fotóforos para controlar a cor da epiderme; conforme aumenta a intensidade de luz na água enquanto migram verticalmente na direção da superfície, elas compensam iluminando-se para eliminar a sombra de seus corpos, tornando-se invisível para o predador. Mas a simbiose não é o mecanismo dominante de emissão de luz no mar. Na maioria das vezes são encontrados o sistema luciferina-luciferase nos fotóforos do animal bioluminescente sem qualquer relação simbiótica com bactérias. Em alguns casos, como nos peixes do gênero Porichthys, os elementos químicos luciferina-luciferase essenciais da bioluminescência podem ser obtidos através da dieta de organismos planctônicos bioluminescentes.
Sempre se especulou que a vantagem para o predador luminoso é atrair presas. Como no caso do peixe pescador, bem ilustrado ameaçando Nemo e a Dory no filme da Pixar. Ou para a presa luminosa enganar o predador, como fazem algumas lulas e poliquetas que “vomitam luz” ao comprimir uma determinada glândula para ejetar uma gosma bioluminescente, confundindo o inimigo enquanto escapam pela porta dos fundos. Como faz um copépodo marinho (Metridia lucens) que descarrega algo semelhante que continua brilhando por cerca de 20 segundos, tempo suficiente para fugir enquanto o predador se distrai com esse showzinho pirotécnico. Também se presume que a bioluminescência em peixes e crustáceos sirva para a comunicação. Sobretudo para reproduzir, que, aliás, é basicamente o que interessa no encontro de animais do sexo oposto. Exceto nos pingüins imperadores, alguns periquitos, algumas poucas aves e mamíferos que não me lembro e, òbviamente, nos humanos (pelo menos na maioria), os quais mais do que fazer sexo para procriar, se acasalam para cuidar do pequenino resultado. Pela lei da selva, na maioria dos encontros entre macho e fêmea, se não for para reproduzir e perpetuar a espécie, o pau come de novo em sentido figurado, mas é pela disputa de alimento.
O homem também adotou essa propriedade de produzir sua própria luz. ? Antes do antropoceno nosso planeta tinha apenas dois hemisférios geográficos (Norte e Sul), e só havia duas fontes naturais de luz: a das estrelas, incluindo evidentemente o sol entre elas, e a da biosfera bioluminescente que dominava as profundezas do mar. Entretanto, mais de um século após a invenção da lâmpada o planeta passou a ter outros dois tipos de hemisfério: um iluminado com luz solar natural e outro iluminado com luz artificial. Ao contrário dos hemisférios geográficos que são estáticos, esses novos hemisférios se alternam constantemente pelo movimento de rotação da Terra, e nós viajamos sem parar através deles a mais de 1.600 km/h. De dia estamos em um, e de noite estamos no outro. A emissão da “bioluminescência humana” com luz elétrica a partir da superfície terrestre é cada vez maior e ainda não sabemos o impacto ambiental que isso pode estar causando. Assim como a poluição química, sólida, visual e sonora, o aumento da poluição luminosa acompanha de perto o crescimento urbano e industrial. Dê uma olhada na foto composta do planeta por imagens de satélites feitas de noite, disponível no site http://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/image/0011/earthlights_dmsp_big.jpg
A iluminação de ambos os hemisférios por 24 horas faz parte do nosso quotidiano, mas não no dos outros animais. Os bichos evoluíram durante milhões de anos sob a luz do luar e das estrelas. E em um pouco mais de apenas um século se viram rodeados de luzes artificiais vindas de todas as direções, com cores e intensidades variáveis. Interferem principalmente no ciclo de vida de tartarugas e aves migratórias. As tartaruguinhas do Tamar quando quebram a casca do ovo não sabem se seguem aquela estrela ou aquele poste, aquela lua ou aquele holofote da quadra de tênis. As aves migratórias (dizem) necessitam da luz das estrelas para a navegação. Não sei se isso foi ou não comprovado. Mas se foi, talvez sintam que estão voando de cabeça pra baixo ao deparar-se com milhares de novos pontos luminosos na superfície terrestre ao longo de suas rotas anuais. As baleias migram todos os anos desde os locais de alimentação para os de reprodução em águas mais quentes. É lógico supor que o principal fator que controla o rumo dessa migração seja o gradiente de temperatura e, secundariamente, a navegação por orientação magnética ou astronômica. Sinceramente não sei se é assim que elas decidem se vem para o Brasil ou para a Austrália. Talvez os navios iluminados e a construção de faróis e cidades costeiras também tenham interferido na migração das baleias nos últimos séculos. Não pretendo levá-los com a corrente da especulação, pois talvez nada disso faça sentido. Afinal todos os anos a Jubarte vêm para Salvador apesar da iluminação costeira. Mas uma coisa é certa: o espectro da luz visível do planeta sofreu mudanças irreversíveis nos últimos séculos. A resposta da natureza a essas alterações pode levar séculos e até milhões de anos para chegar, quem sabe evoluindo um avatar-vingador, bio-iluminado da cabeça aos pés para ofuscar as luzes de Paris e os fogos de Copacabana
O oceanógrafo e líder Avina que participou de várias expedições do Programa Antártico Brasileiro. Nos últimos 28 anos trabalhou como Professor do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná. Atualmente trabalha no Instituto Oceanográfico da USP. Graduado em Ciências Biológicas pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (1976). Mestre em Oceanografia Biológica pela Tokyo University of Fisheries (1981) Doutor em Oceanografia Biológica pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (1986). Pós-Doutorado no Instituto Alfred-Wegener de Pesquisa Polar e Marinha (Alemanha) como bolsista da Fundação Humboldt (1991-1992). Nos últimos 28 anos trabalhou como Professor do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná. Atualmente trabalha no Instituto Oceanográfico da USP. Participou de várias expedições do Programa Antártico Brasileiro. Nos últimos 10 anos dedicou-se a trabalhar no terceiro setor como lider AVINA, tendo fundado a Associação MarBrasil da qual é membro do Conselho.
Fonte: www.oeco.com.br - Acesso: 01/02/2010