segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Foto do Dia: Belíssimo Cephalopode

                             Foto:Cameron Knudsen
"Estava em um mergulho noturno nas águas ao largo de Okinawa, Japão quando esta lula mostrou-se. O tempo e o ar que eu passei tentando chegar perto dele valeu a pena."

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Um dragão protetor

Árvore da espécie Dracaena cinnabari, também denominada como "dragoeiro", é uma espécie de planta nativa do arquipélago de Socotra, no Oceano Índico. Toda a flora e fauna únicas do arquipélago de Socotra são consideradas um Patrimônio Mundial. Um centro de diversidade de plantas e uma área de aves endêmicas.

Ele também se encontra dentro do Chifre de África, um ponto de intensa biodiversidade. O dragoeiro (Dragon's Blood Tree, em inglês) é considerado como uma espécie importante para os esforços de conservação da ilha. Uma espécie "guarda-chuva", a sua proteção indiretamente protege as muitas outras espécies que compõem a comunidade ecológica do seu habitat. Como a conservação das espécies pode ser subjetiva pela dificuldade em determinar o estado de muitas espécies, os esforços de proteção do Dracaena cinnabari também beneficiam muitas outras plantas e animais dentro da área.

O Fim dos Peixes - Taxionomia

Ciência e senso comum nem sempre andam de braços dados, mas os biólogos às vezes exageram. Não satisfeitos em ressuscitar os dinossauros, que agora passam diariamente em nossas janelas na forma de passarinhos, eles também extinguiram os peixes. Sim, você leu bem. Para a cladística, que é o ramo da biologia que organiza os seres vivos com base em suas relações filogenéticas, os peixes não constituem uma categoria. Achou pouco? Bem, eles também eliminaram as mariposas e as zebras. Nem ouso perguntar o destino do pobre peixe-zebra.

Brincadeiras à parte, esse divórcio entre o que nos diz a ciência e o que clamam nossos instintos mais básicos lança luzes tanto sobre os rumos da investigação científica como sobre nossa natureza.
Um livro notável, que me foi recomendado pelo amigo André Nemésio, trata bem dessas questões. É `Naming Nature: The Clash Between Instinct and Science` (nomeando a natureza: o choque entre instinto e ciência), da bióloga Carol Kaesuk Yoon.
Transitando entre a história da taxonomia, a neurologia clínica e a antropologia linguística, Yoon defende a tese ligeiramente paradoxal de que tanto a ciência como o senso comum estão corretos. No final das contas, peixes existem, ainda que mais em nossas mentes do que numa suposta organização geral da natureza.
O ponto fraco do livro é o final, onde Yoon, com um fervor quase religioso, prega que o distanciamento entre os cidadãos de um mundo cada vez mais urbanizado e a natureza é um fator-chave na verdadeira extinção em massa que está em curso. Não é que as espécies não estejam desaparecendo num ritmo preocupante, mas é complicado ligar isso a uma suposta falta de interesse sem apresentar evidências empíricas. Deixemos, porém, isso para lá e nos concentremos nas partes boas de `Naming Nature`, que são muitas.

Para começar, um pouco de taxonomia, a ciência que lida com a descrição, identificação e classificação dos organismos. Em sua forma moderna, ela foi inaugurada por Carolus Linnaeus (1707-1778), que conseguiu imprimir um pouco de ordem ao caos. Ele nos legou não apenas os familiares nomes científicos binomiais, como Homo sapiens, que resistem há mais de 200 anos, como também a hierarquia em os seres devem ser colocados: reino, filo, classe, ordem, família, gênero espécie (dica mnemônica que funciona em inglês: king Philip came over for great sex).
Apesar dos esforços de Lineu, a taxonomia ainda tinha muito mais de arte do que de ciência. Ele próprio se destacava por classificar espécimes fiando-se em instintos, ou, para utilizar um vocabulário mais técnico na `umwelt` (`mundo circundante` em alemão), que é o nome que os biólogos dão à forma particular pela qual cada espécie vê e interpreta seu ambiente. Lineu superava seus contemporâneos porque percebia semelhanças entre plantas e bichos que seus rivais não eram capazes de enxergar.
Na verdade, a taxonomia lineana se baseava justamente em ordenar os organismos com base em similitudes inscritas em nossos instintos. O que nada é peixe; o que voa é ave. E os casos controversos a gente resolve individualmente.
No século 19, porém, entra Darwin e tudo muda. O principal é que, com a teoria da evolução, as espécies deixam de ser fixas. O Homo sapiens não surgiu pronto no sexto dia da criação, mas evoluiu a partir de outras espécies do gênero Homo, o qual, por sua vez, veio de outros primatas, que... até chegar na vida terrestre primordial.
À primeira vista, essa revolução sabota a própria ideia de taxonomia. Se o que queremos classificar está em constante mudança, no que poderíamos nos fixar para estabelecer critérios?
Mas este é um daqueles casos em que o enigma engendra sua própria solução. Já que é a evolução que gerou a exuberância de seres vivos com que nos deparamos, o critério para classificá-los deve ser evolutivo: espécies que divergiram mais recentemente devem ser catalogadas juntas, como representantes do mesmo gênero e daí pulamos para a família, ordem, classe... A partir daí, podemos montar uma imensa árvore genealógica que engloba toda a criação. É nisso que deve constituir a boa taxonomia, que sai da caprichosa `umwelt` e pode tornar-se científica.

E os desenvolvimentos não pararam em Darwin. O advento de métodos estatísticos, bioquímicos e de genética molecular mudaram significativamente o panorama da área, que passou a dispor de elementos mais objetivos do que as intuições de Lineu para hierarquizar as espécies. O que Darwin vislumbrara no século 19 poderia enfim tornar-se realidade. Em meados do século 20, Willi Hennig propõe a cladística, que agrupa itens tomando por base o critério de características partilhadas que estão presentes no último ancestral comum das duas espécies, mas não em parentes mais distantes.

É aí que morrem os peixes. Em impossível juntá-los todos numa categoria sem colocar seres estranhos no meio do bolo. Um caso emblemático é o dos dipnoicos, também conhecidos como peixes pulmonados. Olhando para eles, não há dúvida de que são peixes. Nadam e se comportam como um. Só que eles também têm pulmões e, evolutivamente falando, são parentes mais próximos das vacas do que de outras ordens íctias como o salmão. Assim, se o cladista quiser a todo custo manter os peixes como uma categoria válida, teria de nela incluir vacas e todos os seres portadores de pulmões, nós inclusive. Obviamente, faz mais sentido sumir com os peixes.
Relutamos, entretanto, em fazê-lo. E o motivo é que temos dificuldade para pensar contra nossa `umwelt`. Passamos as últimas dezenas de milhares de anos tratando peixes como uma categoria real --e pescando-os e com eles nos fartando. A palavra existe em todas as línguas conhecidas. E, no que pode ser algo muito mais profundo, nossos cérebros parecem ter módulos específicos para pensar a natureza segundo padrões mais ou menos pré-definidos.
O antropólogo Brent Berlin mostra que somos relativamente competentes para identificar nomes de pássaros em línguas de tribos que nem suspeitávamos existir, como os huambisas do Chile. Se submetermos estudantes universitários a pares de palavras em huambisa nos quais um dos elementos é uma ave e o outro um `peixe’ (a partir de agora acho melhor usarmos aspas), verificaremos que eles acertarão bem mais do que os 50% esperados se as escolhas fossem totalmente aleatórias. Como?
A resposta está no som. Tomemos um dos pares de Berlin: `takáikit` e `teres`. A esmagadora maioria das pessoas marca o primeiro como pássaro. Os fonemas da palavra parecem carregar uma onomatopeica passaridade que nossos cérebros não têm muita dificuldade para reconhecer.

Mais eloquente ainda é o caso dos pacientes neurológicos. A literatura registra hoje um número razoável de pessoas que, devido a doenças ou traumas, perderam a capacidade de reconhecer seres vivos, mantendo intactas suas outras habilidades cognitivas, incluindo o reconhecimento de objetos inanimados. Há também o movimento-espelho, de gente que deixa de visualizar coisas inanimadas, conservando a percepção de viventes.
Em boa parte dessas situações, o que deflagra a cegueira para com seres vivos é uma encefalite herpética que provoca lesões no lobo temporal, mais especificamente o sulco temporal superior e o giro fusiforme lateral. Se a dificuldade é só com objetos, as estruturas mais comumente comprometidas são o giro temporal médio e o giro fusiforme medial.
Seja qual for a causa, o resultado é que a `umwelt` fica de algum modo chamuscada. E, a crer no impacto devastador que essas lesões têm sobre a vida do paciente, não parece exagero afirmar ela de algum modo define nossa humanidade.
Ao que tudo indica, viemos de fábrica com uma notável capacidade de nos interessar por seres vivos, reconhecê-los, nomeá-los e categorizá-los. E isso faz todo o sentido do ponto de vista evolutivo, já que esses organismos são nossa comida e por vezes nós a deles.

Voltando à pergunta inicial, o que dizer dos `peixes`? Eles existem ou não? Não vejo muito como fugir da solução de Yoon. Não dá para negar estatuto de realidade a algo que está tão fortemente impregnado em nossas mentes. O cérebro praticamente clama para que vejamos `peixes` como peixes. Daí não decorre que precisemos obrigar a ciência a operar apenas com categorias naturais. Aliás, não há nada menos natural do que léptons, prótons e quarks, mas os físicos não têm dificuldade de trabalhar com eles. A biologia, assim, está certa em buscar as definições que melhor sirvam a seus propósitos e enveredar pelos caminhos que surgirem sem se preocupar muito com nossas sensibilidades. A discussão lembra um pouco a que ocorreu no rebaixamento de Plutão, que teve seus direitos planetários cassados e tornou-se um mero planetoide. Lá como cá, o divórcio entre senso comum e precisão científica gera certo estranhamento, mas logo aprendemos a viver com isso.
Uma questão interessante para especular é: existe um ponto em que devemos abandonar teorias que aparentam solidez para ficar com nossas intuições? Como já coloquei numa coluna mais antiga, se seguirmos teorias físicas elegantes e bem estabelecidas ao pé da letra, temos de aceitar a existência de universos paralelos, o que obviamente fere nosso senso de realidade. A saída fácil é afirmar que precisamos aguardar por evidências empíricas de que esses mundos de fato existem. Concordo em boa parte, mas, como lembra o físico Brain Greene, defensor da realidade desses universos, não existe ideia mais contraintuitiva do que a de que a Terra se move em altíssima velocidade em torno de seu próprio eixo e também do Sol. Afinal, o que vemos é o Sol cruzando os céus e não sentimos estar em movimento. Foram a ciência e a matemática de Copérnico e Galileu que nos levaram ao paradigma heliocêntrico, que hoje não recebe contestação. Evidências empíricas mais diretas de que o heliocentrismo é real tiveram de esperar por instrumentos sofisticados que só surgiram séculos depois.

Existindo ou não `peixes`, essa é uma boa questão para pensar à noite.
Hélio Schwartsman - Folha de São Paulo - 19/09/2013 - São Paulo, SP

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

                                      Tamoya haplonema -  fonte: cifonauta/cebimar/usp
 
Todos os rios correm para o mar. Existe uma expressão popular que diz: "o oceano só é grande porque teve a humildade de colocar-se abaixo do nível dos rios". Porém, esta humildade não tem sido boa para a saúde dos oceanos, pois a maior parte da poluição dos rios deságua e se acumulam nos mares, colocando a vida marinha em perigo.
O nível dos mares está aumentando, mas a biodiversidade oceânica está diminuindo. O aumento da temperatura das águas, a acidificação dos oceanos e a pesca predatória estão criando o ambiente favorável para o crescimento da população das águas-vivas.

Existem mais de mil espécies de águas-vivas espalhadas pelo mundo. No Brasil, duas causaram recentemente problemas aos banhistas, principalmente em São Paulo: a Chiropsalmus quadrumanus e a Tamoya haplonema.
Onde há sobre pesca, a água-viva e a medusa tendem a crescer. A pesca predatória remove os predadores do topo do mar (por exemplo, cerca de 100 milhões de tubarões são mortos por ano para a captura de suas barbatanas) e possibilita a proliferação de águas-vivas, criando um círculo vicioso e uma mudança de regime global de mares de peixes a um oceano de águas-vivas. O crescimento exagerado de uma espécie é um sinal de que algo está errado.
Os oceanos cobrem 70% da superfície do Planeta e são fundamentais para a estabilização do clima. Mas a concentração de dióxido de carbono na atmosfera é mais um elemento que contribui para a acidificação dos mares e para a morte dos corais, que não resistem às águas mais ácidas e mais quentes.
A maior parte da população humana vive em cidades litorâneas e a construção civil, o uso generalizado de diques para evitar a erosão costeira, os portos, o transporte marítimo e o lazer e o turismo criam um habitat perfeito para a água-viva passar pela fase de pólipos no início de suas vidas.
A degradação dos oceanos e o colapso da biodiversidade dos mares têm provocado profundas alterações na saúde dos ecossistemas marinhos. O restante do Planeta não vai ficar imune a este processo.
Referência:
KLOOSTERMAN, Karin.
World Sees Scary Transition to Seas Full of Jellyfish, Not Fish. GreenProphet, 30/05/2013. http://www.greenprophet.com/2013/05/jellyfish-oceans/
Autor: *José Eustáquio Diniz Alves
*José Eustáquio Diniz Alves é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate

 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Criatura marinha mítica se une à luta contra pesca de arrasto em oceano

Organização BLOOM divulga imagem inédita das profundezas do oceano, onde o mítico peixe-remo foi flagrado em seu habitat natural. Um filme inteiro sobre o peixe será lançado nos próximos dias com objetivo de sensibilizar população sobre os perigos da pesca de arrasto. (Foto: Reprodução/Facebook/BLOOM)

Ambientalistas recorrem a peixe-remo para sensibilizar sobre prática.
Votação para decidir sobre o tema na Europa ocorrerá em 3 de outubro.

Ambientalistas exibiram nesta segunda-feira (16) imagens inéditas de uma lendária criatura marinha, o peixe-remo, ao lançar uma campanha contra a pesca de arrasto de profundidade.
Origem do mito da serpente marinha - uma cobra considerada capaz de virar embarcações e engolir tripulações -, o peixe-remo pode alcançar 11 metros de comprimento e mais de 250 quilos de peso.
Semelhante a uma enguia, a criatura, cujo nome científico é Regalecus glesne , é o peixe ósseo mais comprido do mundo. É visto apenas raramente por seres humanos e, normalmente, como uma presa indesejada da pesca comercial.
Conservacionistas marinhos mostraram, durante uma coletiva de imprensa em Paris, imagens exclusivas do gigante sinuoso em seu habitat nas profundezas do mar, como parte dos esforços para chamar atenção para os perigos que a pesca de arrasto representa para o leito marinho.
"É um momento chave para o fundo do mar", disse Matthew Gianni, da organização Deep Sea Conservation Coalition, que reúne mais de 70 associações.

Biólogos marinhos afirmam que a pesca com arrasto de profundidade, na qual redes de pesca são arrastadas no fundo do mar, causam danos catastróficos a corais, esponjas e à microflora, vital para o ecossistema.
Locais em que esse tipo de pesca foi praticado décadas atrás ainda estão em recuperação, disse Claire Nouvian, diretora do grupo sem fins lucrativos BLOOM. A pesca de arrasto de profundidade também captura acidentalmente espécies sem valor comercial.
A França e a Espanha, cujas indústrias pesqueiras têm influência política, combatem os esforços da Comissão Europeia para banir a prática. Uma votação chave para decidir sobre o tema ocorrerá no dia 3 de outubro em Bruxelas.
Países da União Europeia respondem por 60% das capturas globais com pesca de arrasto de profundidade, informou a coalizão em seu site, citando números de 2001.
Fonte: AFP

 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Cururuá, o verdadeiro nativo de Ilhabela - Por Fábio Olmos -13.09.13 - OECO.org

A tranquila Cururuá que capturei em junho de 1994 posa para uma foto. Até recentemente essa era a única foto de um exemplar vivo desta espécie. Foto: Fabio Olmos

Ilhas são microcosmos onde podemos observar a evolução acontecendo e não é à toa que espécies insulares despertam grande interesse entre os cientistas. Comparações morfológicas, ecológicas e genéticas entre espécies aparentadas vivendo em diferentes ilhas ou em ilhas no continente têm ajudado a compreender como e por que espécies se multiplicam.
As ilhas do litoral do Brasil entre o Rio de Janeiro e Santa Catarina emergem de uma plataforma continental rasa (na maior parte entre 10 e 40 m de profundidade) e larga (c. 75 km no Rio, mais de 200 km em São Paulo). Entre 123.000 e 7.000 anos atrás, com muita da água do planeta armazenada em gigantescas geleiras e calotas polares, o nível do mar era bem mais baixo que o atual (até 110 m mais baixo em alguns momentos) e estas ilhas eram morros que pontilhavam uma grande planície coberta por vegetação adaptada a climas frios e secos que talvez fosse similar à de locais como Cabo Frio.
Ao atingir o nível atual 7 mil anos atrás (mais ou menos quando a vila que deu origem a Aleppo, na Síria, começou a ser ocupada), o mar transformou morros em ilhas e isolou populações de animais e plantas que, no mesmo período que levou para criar e destruir civilizações, deram origem a espécies distintas. Exemplos são as fantásticas jararacas ilhoas das ilhas paulistas de Queimada Grande, Alcatrazes e Vitória, sapinhos como Hylodes fredi e Proceratophrys tupinamba da Ilha Grande, Scinax alcatraz, Cyclorhamphus faustuoi de Alcatrazes, que também é o único lar das plantas Begonia venosa, B. larorum, Sinningia insularis e Anthurium alcatrazense.
Estes endemismos são apenas parte das razões pelas quais Alcatrazes e Queimada Grande, e o mar ao seu redor, já deveriam ter se tornado parques nacionais. Mas é mais fácil criar um parque nacional no Iraque que no Brasil.
Além de plantas, moluscos, anfíbios e répteis endêmicos, as ilhas costeiras dessa parte da Mata Atlântica também abrigam duas espécies de mamíferos únicos. Um é a preá Cavia intermedia, que ocorre em uma área de apenas 10 hectares (ou 10 campos de futebol) nas ilhas Moleques do Sul, um conjunto de três ilhotas a 14 km do continente.
Esta espécie, com uma população média de apenas 42 indivíduos, é o mamífero com menor área de distribuição conhecida e considerada criticamente ameaçada de extinção. Como é comum acontecer com populações insulares onde não há pressão de predadores, esta espécie ocorre em altas densidades, sua população constituída principalmente por adultos com alta taxa de sobrevivência e baixa fertilidade. Uma curiosidade é a "genitália masculinizada" dessas preás clitorudas, similar à de sua espécie-irmã, Cavia magna, encontrada de Santa Catarina ao leste do Uruguai.


O Cururuá

A outra espécie é o cururuá Phyllomys thomasi, também em perigo de extinção – sina dos endemismos insulares. Este belo roedor arborícola ocorre apenas na Ilha de São Sebastião, melhor conhecida como Ilhabela, no litoral norte de São Paulo.
O Cururuá pertence a um gênero de roedores arborícolas endêmico da Mata Atlântica. Os Cururuás pertencem ao grande grupo dos "ratos de espinho" restritos à América tropical, que produzem ninhadas pequenas de 1-3 filhotes bastante precoces que nascem com pelos e olhos abertos. Noturnas, muitas espécies desse grupo são arborícolas e algumas "cantam" à noite para manter contato entre si. O nome Cururuá seria uma onomatopeia do canto do roedor.
Ilhabela é o que resta de um antigo vulcão e uma das maiores ilhas brasileiras, com 337 km2 e altitudes que chegam a 1.380 m. A ilha é separada do continente por um canal que varia entre 2 e 5 km de largura, mas com profundidades que chegam a 40 m. Isso tanto a isolou como a torna visada para empreendimentos portuários. Um detalhe interessante é que 80% da ilha é um parque estadual que, no entanto, na sua maior parte protege apenas áreas acima de 100 m de altitude.
A ilha é um lugar especial para mim. Depois de aprovado em processo seletivo da CETESB (braço da SMA/SP) fui comissionado como gestor do parque estadual em 1993-94. Além de ser uma experiência educativa sobre a realidade da gestão de áreas protegidas e a disfuncionalidade do setor público, o posto me permitiu desenvolver pesquisas sobre a fauna da ilha. No topo das minhas prioridades extratrabalho estava encontrar o mítico Cururuá.
Descrito em 1897 pelo grande naturalista teuto-brasileiro Hermann von Ihering, fundador do Museu Paulista (hoje Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo), o Cururuá era conhecido de menos de 10 exemplares, o último coletado em 1915, nas coleções daquele museu. Estes espécimes mostravam que o Cururuá é a maior espécie do grupo, um Phyllomys gigante.
Vivendo em uma ilha onde faltam espécies de possíveis competidores e predadores, o Cururuá pode ser considerado um processo em andamento do fenômeno do gigantismo insular, que produziu roedores do tamanho de ursos no Caribe (claro, extintos quando humanos chegaram). Este, junto com seu oposto, o nanismo insular, que produziu elefantes e hipopótamos anões em ilhas do Mediterrâneo (logicamente extintos quando humanos chegaram) fazem a alegria dos que estudam evolução.
A rápida divergência de tamanho, resultado de intensa pressão seletiva provavelmente acoplada a processos epigenéticos é uma constante na evolução insular. Por exemplo, populações de veados isolados em Jersey, uma ilha do Canal da Mancha.
Busca
Embora autores antigos dissessem que o Cururuá era comum a ponto de ser uma praga em roças de mandioca, a realidade que encontrei foi muito diferente.
Minha busca por um bicho que nenhum biólogo (ou pelo menos biólogo que soubesse o que estava vendo) havia reportado fazia décadas levou meses. Após muito buscar e perguntar, João Oliveira, um dos guardas-parque, descobriu que um Cururuá morava na árvore atrás da residência, boteco e restaurante do Canindé, uma das figuras folclóricas da Praia dos Castelhanos.
A Cururuá (pois era uma menina) habitava um ninho feito de folhas com o formato de um iglu no alto da árvore. Trilhas escurecidas feitas de alguma secreção produzida por uma glândula que ela tinha no peito marcavam os galhos nas rotas usadas pela roedora nas suas andanças arborícolas. Eu já havia sido informado de que Cururuás faziam ninhos de folhas e que, nos "tempos dos antigos", eles eram caçados com lanças feitas com espinhos de raias. Era uma simples questão de achar o ninho e com uma "chuchada" se conseguia uma refeição.
Minha Cururuá foi capturada com a mão e mostrou ser muito dócil, aceitando bananas, mangas e mamões (mas não a salada) que ofereci durante os poucos dias que a mantive cativa. Ela nunca tentou morder quando a medi (27,5 cm do nariz à base da cauda, 27 cm de cauda e saudáveis 432 gramas) nem quando foi sedada por um amigo veterinário para obter uma amostra de sangue para estudos genéticos. Essas foram as primeiras medidas obtidas de um Cururuá vivo (os antigos coletores de museu não se preocupavam com isso), mas a amostra, que ajudaria a resolver a filogenia do grupo, acabou perdida ao ser enviada para uma universidade.
Libertei a Cururuá na mesma árvore onde ela foi capturada. Após cheirar os ramos marcados com a trilha odorífera, ela correu árvore acima e desapareceu no seu iglu. Nunca mais a vi, mas, consta que continuou vivendo ali por um bom tempo. Minhas descobertas foram publicadas em um artigo científico que permanece como um dos poucos sobre a espécie.
Outros mamíferos endêmicos das ilhas costeiras do sul-sudeste podem estar aguardando serem descobertos em gavetas de museu. Por exemplo, as vizinhas ilhas de Vitória (lar da endêmica Bothrops otavioi)e Búzios (lar do endêmico caracol Gonyostomus insulanus) são localidade de coleta de roedores e marsupiais que merecem ter seus genes, morfologia e ecologia estudados.
Como eu e outros pesquisadores que procuraram Cururuás descobrimos, a espécie está longe de ser comum. Na verdade, parece ser genuinamente rara e talvez mesmo restrita a áreas a menor altitude, a maioria fora do parque estadual.
Foi uma surpresa quando meu amigo Marcelo Dutra, que deve ser o maior conhecedor da fauna de Ilhabela, encontrou famílias de Cururuás (além de lontras, guaiamuns e sabacus-de-coroa, todos espécies ameaçadas) vivendo no remanescente de manguezal (já único pela sua natureza insular) próxima ao atracadouro do ferry-boat que liga a ilha ao continente. Como é de se esperar, a área está sendo ocupada por uma marina e já foi parcialmente destruída.
Os desejos realizados de interesses imobiliários, portuários e industriais são a força motriz da favelização e comprometimento da qualidade de vida nas cidades do litoral paulista, que sofrem com problemas crônicos de saneamento e crescentes de transporte, saúde, educação e segurança. Os tais empreendimentos que resultariam em progresso se revelam tiros no pé.
Isso é facilmente visto no microcosmo ao longo da rodovia Rio-Santos, onde há condomínios bregas de alto a mezzo padrão (um teve a capacidade de colocar um moai na entrada) ao lado de favelas que invadem mangues e morros, praias com mais coliformes que água e criminalidade estilo cidade grande.
Ilhabela logicamente sofre com aqueles interesses e a explosão populacional atrelada à expansão imobiliária. Recentemente, a prefeitura conseguiu a aprovação pelo grupo que "cuida" do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do litoral norte paulista que as praias do Bonete e Castelhanos, de acesso difícil e ainda conservadas, fossem classificadas como zonas de expansão urbana. Manifestações da sociedade, notavelmente dos moradores daquelas praias, conseguiram a retirada desta proposta, feita sob medida para quem quer condomínios nas praias e ao longo da estrada do Bonete, que corta uma área que deveria ter sido inserida no parque faz muito tempo.
Propostas infelizes do tipo continuam pipocando no Zoneamento Ecológico-Econômico, onde acabam aprovadas por mecanismos "participativos" e "democráticos" que lembram os usados em assembleias de sindicados ou centros acadêmicos para garantir o que foi acordado de antemão.
Já vimos esta história no Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) da Baixada Santista, que ignorou trabalhos científicos, mapeamentos feitos pelo projeto BIOTA-FAPESP, a legislação ambiental e pareceres da própria SMA/SP e classificou áreas importantes de Mata Atlântica como de expansão urbana e de manguezais como de expansão portuária.
Graças ao Ministério Público, empreendimentos destrutivos (mas regulares, segundo o ZEE) foram barrados, mas seria pedir demais que um instrumento de planejamento respeite a lei e siga critérios técnicos ao invés dos desejos de quem já destruiu boa parte do litoral paulista? Parece que sim.
.......
Nessa era de parques abandonados invadidos por favelas, condomínios e "populações tradicionais", usados por mais caçadores e palmiteiros do que por visitantes e administrados por gente cuja prioridade é colocar tilápias no laguinho, espécies ameaçadas como o Cururuá tentam sobreviver aos desastres nada naturais causados por imobiliárias, empreiteiros e políticos.
Qual a chance deles?
 



O "blobfish" ou peixe-gota  é uma criatura rosada capaz de suportar a pressão de grandes profundidades.

O peixe-gota ('Psychrolutes marcidus'), uma espécie do Pacífico que lembra um senhor velho e amargurado, foi eleito o animal mais feio do mundo em um concurso organizado na Grã-Bretanha.
Mais de três mil pessoas participaram de uma consulta na internet para chamar a atenção sobre espécies pouco conhecidas e ameaçadas que desempenham seu papel no ecossistema.
O "blobfish", como é denominado em inglês, uma criatura rosada capaz de suportar a pressão de grandes profundidades marinhas - e cujo aspecto parece fazer menção a esta circunstância - tem sido vítima da pesca de arrasto.
Ele ganhou incontestavelmente, com 795 votos, disse Coralie Young, da Associação Britânica de Ciência (British Science Association), que anunciou o resultado em um festival anual em Newcastle, no nordeste da Inglaterra.
Em segundo lugar ficou o kakapo, um pássaro que não voa, e parece uma mistura de papagaio e coruja, que vive na Nova Zelândia. Em terceiro lugar ficou o axolotl, anfíbio mexicano apelidado de "peixe andarilho".
Outros candidatos foram o macaco proboscis, que tem os testículos vermelhos e nariz grande, e a rã do Titicaca, também conhecida com o nome pouco científico de "rã escroto".
Oitenta mil pessoas visitaram a página do concurso. "É um modo simpático de lembrar às pessoas sobre a conservação" dos animais, explicou por telefone Coralie Young.


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Bióloga e cineasta rastreiam mudanças na vida marinha para documentário

Inspirados por esculturas, C. Drew Harvell e o cineasta David O. Brown rastreiam as mudanças na vida marinha.
 
C. DREW HARVELL
PARA O "NEW YORK TIMES"
Depois de nadar por algum tempo no mar frio e escuro, avistamos sobre o recife com nossas lanternas de mergulho o Octopus ornatus, o "polvo enfeitado", uma criatura de 30 cm de comprimento em um tom de amarelo âmbar com manchas brancas vistosas e riscos em seus braços.
Ele ficou sentado imperturbável à luz da câmera, nove metros abaixo da superfície, sem se abalar. Eu apontei um dedo e ele me tocou com seus tentáculos. Quando ele se moveu na outra direção, eu o segurei com as mãos em concha enquanto ele me observava com atenção.

 
Como que levitando, ele decolou suavemente e tentou deslizar sobre minha mão. Olhei em seus olhos. Então um tentáculo bateu na minha máscara. O polvo se arrastou pelo meu braço e desapareceu na noite.
Sou bióloga marinha desde o início de minha vida profissional e passei mais de 25 anos pesquisando a saúde dos corais e a sustentabilidade dos recifes. Sou fascinada pela magia dos invertebrados sésseis como corais, esponjas e pepinos-do-mar -criaturas vitais para o ecossistema, mas muitas vezes desprezadas em favor de animais mais visíveis, como tubarões e baleias.
O cineasta David O. Brown e eu queríamos mudar isso. Para fazer um documentário, "Fragile Legacy" [Legado frágil], estamos em uma missão para atrair esses invertebrados fugazes e delicados para a câmera.
Nossa inspiração vem de uma coleção de 570 esculturas em vidro maravilhosas e anatomicamente perfeitas de criaturas marinhas do século 19.
Essas delicadas dobras e filamentos de vidro formam a coleção Blaschka de invertebrados de vidro na Universidade Cornell em Ithaca, Nova York, da qual sou a curadora. Ela contém esculturas de águas-vivas encantadoras e extremamente raras do alto-mar, assim como polvos, lulas, anêmonas e lesmas-do-mar, mais comuns, porém igualmente belos, das piscinas de maré britânicas e praias mediterrâneas.
A coleção é obra de pai e filho, Leopold e Rudolf Blaschka. Leopold Blaschka (1822-95) foi um imigrante tcheco em Dresden, hoje Alemanha. Em uma viagem aos Estados Unidos, em 1853, seu navio ficou parado em uma calmaria e ele se encantou por uma exibição espetacular de bioluminescência de um tipo de água-viva chamado sifonóforos. Decidiu estudar o animal mais de perto e criar outros semelhantes em vidro.
David Brown e eu viemos para o Havaí com o objetivo de fazer vídeos de tantos cefalópodes parecidos com os de Blaschka quanto pudermos encontrar.
Os oceanos estão mudando rapidamente, com um aumento de 30% em acidez nos últimos 200 anos, um aquecimento letal em muitos mares tropicais, significativa poluição costeira e excesso de pesca em praticamente todo lugar. Se houve um tempo para comparar o passado de abundância com um oceano ameaçado, esse tempo é hoje.
As probabilidades de encontrar cefalópodes são muito maiores à noite. Por isso fizemos uma série de mergulhos noturnos em recifes, seguidos por um mergulho em água profunda a cinco quilômetros da costa de Kona.
Ele nos levou a 300 metros de profundidade, com a possibilidade de encontrar tubarões-tigres e grandes tubarões-brancos. O capitão desligou as luzes, para ver melhor a "magia negra" bioluminescente.
Prendemo-nos a nossas linhas de segurança e deslizamos para a escuridão pontilhada por manchas bioluminescentes. Tivemos de chegar perto para identificar se esses brilhos eram de águas-vivas, ctenóforos, salpídeos ou lulas. Os clarões de luminescência se transformaram em uma corrente de plâncton minúsculo.
O que eu realmente esperava ver eram os sifonóforos, as criaturas que tanto inspiraram Leopold Blaschka em 1853.
O modelo de vidro da Apolemia uvaria tem a forma básica de um sifonóforo que eu vi à minha frente -a grande campânula natatória, sua usina de força para mover-se rapidamente, e os longos tentáculos pendurados, cada um com seu arpão cheio de neurotoxina, que são armadilhas mortais para todo tipo de camarões e peixes pequenos.
Os sifonóforos deram um show para nós, embora fossem extremamente difíceis de filmar.
Quando eles se encontram em perigo, seu sistema nervoso dispara um sinal para os músculos, que encolhem os tentáculos e acionam a campânula natatória em alta velocidade. Uma série de tentáculos venenosos com um metro de comprimento se contraem em um instante para oito centímetros.
A próxima etapa em nossa busca é o Mediterrâneo. Irei para a Estação Marítima de Nápoles, na Itália, que forneceu aos vidreiros muitos de seus animais vivos.
Talvez encontremos exemplares idênticos a invertebrados espetaculares como o polvo de tentáculos enrolados (Eledone moschata) e o sifonóforo gigante Apolemia uvaria, que com seis metros de comprimento pode dominar uma rede alimentar mediterrânea.
De todo modo, esperamos descobrir se eles sobrevivem no mar de forma tão magnífica quanto no vidro.

 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Pesca predatória é flagrada nas Ilhas Cagarras - estado do Rio

Pesca ilegal com uso de compressor a menos de 10 metros das Cagarras. Fotos: denúncia enviada ao ICMBio.
Três anos depois da lei que criou a Unidade de Conservação Monumento Natural das Ilhas Cagarras, a 5 km da Praia de Ipanema, a pesca predatória ainda pode ser flagrada no arquipélago. A Unidade foi criada pela lei 12.229 de 2010 para proteger os remanescentes de Mata Atlântica, os refúgios e áreas onde aves marinhas migratórias como atobás-marrons e fragatas botam seus ovos, bem como a beleza cênica do local. Ela é gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio, e seu Plano de Manejo está em elaboração e deve ser concluído até 2015.
Nesta fase de implementação, os gestores na UC visitam as ilhas uma ou duas vezes por mês para fiscalizar se está sendo cumprida a lei que proíbe a pesca a menos de 10 metros de distância do costão rochoso das ilhas Cagarras, Palmas, Comprida e Redonda, além das ilhotas Filhote das Cagarras e Filhote da Redonda. Nestas ilhas, acampamento ou pernoite só com autorização do ICMBio, que as concede para atividades de pesquisa científica e educação ambiental.

Pesca proibida
A foto acima mostra a pesca sendo realizada dentro da faixa de 10 metros ao redor de uma das ilhas protegidas e ainda com o uso de compressor, prática ilegal. De acordo com esportistas que frequentam as águas das Cagarras, a pesca com compressor ou de arrasto é comum por barcos maiores no local.
Segundo a coordenadora do Monumento Ambiental Ilhas Cagarras, Fabiana Bicudo, que recebeu o flagrante, a embarcação identificada já tem processo de denúncia aberto para apuração de infração ambiental na Polícia Federal. "Enviaremos a foto para constar no processo, inclusive como desobediência e reincidência e ele será responsabilizado administrativa (multa) e penalmente", garantiu.
Esta deverá ser a segunda punição aplicada até agora pelo ICMBio nas Cagarras. A primeira ocorreu no final de 2012, durante uma das 4 operações de fiscalização que o órgão já fez com a ajuda de polícia ambiental. Na ocasião, foi feito um flagrante de embarcação pescando polvo perto dos costões e aplicado auto de infração com multa de R$1.000,00. De acordo com a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9605), as multas para pesca proibida podem variar de R$ 700,00 a R$ 100.000,00.
As duas únicas punições são o resultado da fiscalização feita na UC federal pelo ICMBio com a ajuda da Cicca - Coordenadoria de Combate aos Crimes Ambientais, órgão da secretaria de Estado do Ambiente-RJ. Com helicópteros, lanchas, botes infláveis, motos de trilha e efetivo de outros órgãos, a Cicca ajuda a vencer as dificuldades logísticas para a fiscalização. "Não é tão fácil controlar por causa do acesso próprio das ilhas", diz o Cel. José Maurício Padrone, que dirige o órgão. Para chegar nos costões não basta ir de lancha: tem que ter bote inflável também. Até o fim de outubro a Cicca terá mais um helicóptero Esquilo disponível para fiscalização.
Como a presença do poder público é insuficiente nas ilhas, denúncias são bem-vindas para investigação e punição dos infratores, e devem ser encaminhadas através do email monacagarras@icmbio.com.br O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. . Foi o caso das fotos feitas no dia 23 de agosto no arquipélago.
Fiscalização, de longe e de perto
Fabiana Bicudo fala dos progressos: "Já retiramos acampamentos, onde encontramos muito material de pernoite entre barracas, lençóis, churrasqueiras, cimento, roupas... Fizemos a retirada de apetrechos de pesca, como canos de pvc cimentados ao longo de todo costão para suporte de varas de pescar. Vale ressaltar que nestas ações sempre levamos folhetos elaborados especificamente para divulgação das normas". Esse esforço parece ter efeito. No início de 2012, entre garrafas PET e grelhas de churrasco, foram recolhidos 80 quilos de objetos na base de mutirão. Já no final do ano, em outra operação, o lixo recolhido não chegou à metade.
De longe, nenhuma sujeira ou problema parece ameaçar o meio ambiente. A imagem das ilhas vista das areias da Praia de Ipanema é um cartão postal irretocável.
A sede do ICMBio, no alto do Parque Dois Irmãos no Leblon, também se beneficia de um visual deslumbrante em que o MONA salta aos olhos. Entretanto, lá há a ideia de usar a vista para implementar, em paralelo às ações de campo, um sistema de vigília através do uso de lunetas de longo alcance com registro fotográfico. "Esta metodologia será extremamente eficaz e poderá aumentar enormemente nosso esforço de proteção, já que teremos como observar e identificar as embarcações com maior freqüência", espera Fabiana.
A tarefa não é fácil. "Há momentos em que é possível contabilizar até mais de 50 embarcações fundeadas no entorno das ilhas. Além dos barcos de operadoras comerciais de mergulho autônomo e passeio embarcado, há também embarcações particulares em atividade de lazer", diz Fabiana.
O que pode e o que não pode

 
É preciso mesmo muita educação ambiental e também sinalização para que o visitante saiba o que pode e o que não pode fazer. Pode não parecer, mas acampamentos como o flagrado na foto ao lado, feita na mesma manhã de agosto na ilha Praça Onze são permitidos. Segundo o fotógrafo, que não quis se identificar, o acampamento daqueles pescadores era tão grande que podia ser avistado da Praia de Ipanema. A gestão da UC se defende. Poucos sabem mas a proteção não atinge todo o arquipélago que, além das seis ilhas do MONA Cagarras, conta com a Ilha Rasa, gerida pela Marinha, e com ilha da Praça Onze, onde não há restrições. "Podemos dizer de forma simplista que as ilhas sem vegetação não fazem parte da Unidade de Conservação, e nestas não há proibição de acampamentos ou atividades de pesca", informa Fabiana.
Para a gestora, sinalizar é uma meta importante, mas o próprio meio ambiente oferece dificuldades aos que tentam protegê-lo. "No ano passado sinalizamos a Ilha Comprida, porém as placas foram retiradas pelas fortes marés. A previsão é de nos próximos seis meses possamos ter um novo modelo de sinalização", diz.
Plano de Manejo
Soluções para problemas como este estão sendo procuradas nas reuniões para elaboração do Plano de Manejo, um documento técnico que deve estar pronto até 5 anos após a data de criação da UC. Fóruns e oficinas reuniram somente em 2013 mais de 350 pessoas para definição de normas e zoneamento de usos do MONA. "Fizemos um Fórum Público em abril e agora temos realizado oficinas temáticas com foco em: pesquisa, uso público, turismo, pesca e proteção. Temos obtido ótimos resultados pois todos os setores têm sentado para discutir conjuntamente os usos, como mergulho, passeio embarcado, escalada e pesca", relata Fabiana. Ela espera que o documento técnico tenha o aval de todos os setores usuários envolvidos, deixando de ser meramente burocrático para adquirir status de pacto social.
Os trabalhos tem o apoio das 32 instituições que compõem o Conselho Consultivo do MONA. Entre elas, a UNIRio, a UFRJ, a UFF, o Museu Nacional, o Jardim Botânico, o Clube Marimbas, a Colônia de Pescadores de Copacabana (Z-13), a Federação de Montanhistas e o VIVARio. Os recursos financeiros vêm através do Fundo oficial, criado em 2012 pela SOS Mata Atlântica e mantido pelo Bradesco/SOS Mata Atlântica. "O Plano de Trabalho de 2013 prevê um investimento de cerca de R$100 mil na UC", diz Fabiana.
Impacto do esgoto
Os estudos já levantaram, por exemplo, que o maior impacto ambiental sofrido no MONA é a poluição marinha, ligada ao esgoto in natura despejado continuamente na região pelo Emissário Submarino de Esgoto de Ipanema e à poluição da Baía de Guanabara, levada pelas correntes. "Pesquisas demonstram poluentes como o ascarel,  na casca dos ovos que nidificam nas ilhas afetando seriamente a conservação das espécies. Temos levantado estas informações científicas para provar que vale a pena buscar políticas públicas que minimizem este impacto", diz Fabiana, acrescentando que a pesca irregular é o segundo maior problema a ser combatido. "Para melhorar a proteção à vida marinha no entorno das ilhas, estamos discutindo no Plano de Manejo também a criação de zonas de amortecimento, aumentando a área protegida para além dos 10 metros em volta do costão rochoso."
Riqueza

Pesquisadores do Projeto Ilhas do Rio, da ONG Instituto Mar Adentro, coordenados pelo biólogo marinho Carlos Rangel, catalogaram mais de 600 espécies dentro dos limites do Monumento Ambiental das Cagarras e mais outras 100 pescadas no seu entorno pelos pescadores artesanais da Colônia de Copacabana (Z-13). Foram 50 espécies de algas, 135 de peixes e 157 de invertebrados bentônicos, dos quais 7 são provavelmente novos para a ciência. Na parte terrestre, foi estudada a mata semelhante à restinga, e inventariadas 157 espécies de ervas a árvores.
 Fonte: O Eco - Patrícia Terra - 04/09/13


 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Pinguins podem trocar monogamia por ninho mais confortável


Os pinguins são monogâmicos, mas uma especialista em biologia marinha explica que o relacionamento não é tão duradouro como se imagina.
Já em outras colônias, os habitantes são temperamentais. Os pinguins de Magalhães, figurinhas que também visitam o litoral brasileiro, fazem os ninhos nas encostas e se multiplicam em outras áreas da península como Punta Tombo e San Lorenzo.
Todos os anos chegam a essa região da Patagônia mais de um milhão de pinguins de Magalhães. É a maior colônia continental do mundo nessa espécie. Eles ficam seis meses em terra. Vêm para se reproduzir, aumentar a família. Depois voltam para o mar e seguem o ciclo de migrações.
De peitinho estufado e barriga cheia, os machos surgem do mar no incício da primavera. Chegam das viagens de até 2,5 mil quilômetros atrás de alimento. Se empanturraram com peixes e lulas marinhas e agora vão gastar energia para construir ou reformar o ninho.
A casa própria geralmente é a mesma do ano anterior, mas há sempre um macho jovem ou adulto valentão de olho no imóvel do vizinho. Aqueles construídos próximos à praia são mais valorizados, e a escritura do terreno é conquistada na base da força e do grito.
Com a casa garantida e em ordem, os dedicados maridos esperam pelas esposas que chegam duas ou três semanas depois. Os pinguins são monogâmicos, mas a guarda-fauna Marcia Schunk especializada em biologia marinha explica que o relacionamento não é tão duradouro como se imagina.
Ela diz que os pinguins voltam sempre para as mesmas áreas para se reproduzir, mas as fêmeas podem trocar de parceiro na temporada seguinte atraídas por um ninho mais confortável.
Aos poucos os pombinhos se entendem. Formam-se os casais e começa o jogo da sedução. No cortejo, o macho se exibe ao redor da fêmea. Não importa se está todo mundo olhando. Os apaixonados se empolgam e garantem as novas gerações.
O período de reprodução termina no fim do verão, quando voa pena pra todo lado. É a mudança da plumagem.
Nessa época de troca de penas, o traje de gala deles não fica assim tão elegante. Pelo contrário, fica bem feinho.
A nova plumagem nasce com cerdas mais firmes para ajudar na impermeabilização feita com um óleo produzido pelo próprio organismo do pinguim.
“A plumagem protege justamente da água fria para que a agua não toque a pele e eles sofram com as baixas temperaturas”, diz a guarda faunas. “Sem a impermeabilização eles poderiam ter hipotermia e acabar morrendo de frio”, completa.
Com roupa nova eles partem para o mar em busca de novas aventuras até a próxima primavera.
Ver vídeo no link abaixo.

Fonte: http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2013/08/pinguins-podem-trocar-monogamia-por-ninho-mais-confortavel.html