Os cientistas usaram técnicas de cristalografia para mapear o
alinhamento da rede de proteínas no interior de todas as células musculares do
animal, e reproduziram essa rede artificialmente. [Imagem: Nawroth et
al./Nature Biotechnology]
Biomecânica
Cientistas juntaram
proteínas e células vivas do coração de animais a uma matriz de silicone para
criar uma água-viva capaz de se movimentar.
O feito serve como uma
prova de conceito da engenharia reversa de seres vivos ou, pelo menos, de
músculos e formas de vida simples.
Janna Nawroth e seus
colegas das universidades de Harvard e Caltech afirmam também que sua
"água-viva meio viva" amplia a definição da chamada "vida
artificial", ou vida sintética, um campo emergente de pesquisas, baseado
sobretudo na biologia sintética.
A biologia
sintética é uma área emergente de pesquisas voltadas para a
concepção e construção de novas "peças" e sistemas biológicos, ou
modificação de seres vivos já existentes, para criar novas aplicações em áreas
que vão da energia até os produtos químicos e farmacêuticos.
Assim, a água-viva
biomecânica é menos robótica do que sua similar apresentada há poucos meses ao
público. Seus criadores a batizaram de Medusóide, em referência a medusa, outro nome pelo qual as águas-vivas são conhecidas.
Engenharia de tecidos
"Um dos maiores
objetivos do nosso estudo era fazer avançar o campo da engenharia de
tecidos," disse Nawroth, referindo-se às tentativas de reproduzir tecidos
vivos em laboratório, algo que, segundo ela, tem sido feito mais como uma arte,
juntando componentes que se acredita serem importantes, mas sem necessariamente
entender os princípios de funcionamento do tecido como um todo.
Entender e imitar a água-viva ( filo Cnidaria ou Coelenterata) pareceu um objetivo natural aos
cientistas, já que a ciência acredita ser esse um dos mais antigos animais da
Terra dotados de células especializadas em diferentes funções.
Na
mesogléia (matriz extracelular gelatinosa situada entre a
epiderme e a gastroderme), encontram-se dispersas células nervosas e outras com
função muscular que promovem o fluxo de água para dentro e fora da cavidade
central.
Esses animais usam estas
células com função muscular para bombear água e se movimentar, de uma forma muito similar com o
pulsar do músculo cardíaco.
Biorrobô
Para criar sua medusa
artificial, os pesquisadores começaram com um molde de silicone, desenvolvendo
um formato que lembra ligeiramente o corpo do animal, e aprimorando-o para que
não vazasse muita água entre as "pétalas", o que faria o biorrobô
perder impulso.
A seguir, eles aplicaram
uma camada cuidadosamente projetada de proteínas, tentando reproduzir ao máximo
a arquitetura muscular do animal.
Essa camada de proteínas
serviu como guia para o crescimento e a organização da camada seguinte, formada
por células do coração de ratos.
Segundo os pesquisadores,
para obter o movimento ritmado, ou pulsante, foi necessário combinar
quantitativamente a arquitetura subcelular, celular e supracelular da “musculatura” da água-viva com as células
cardíacas.
Isso abre caminho para
exploração da técnica para a construção de órgãos artificiais ou, pelo menos,
para o desenvolvimento de "remendos" para tecidos do corpo humano
danificados por acidentes ou doenças.
Seres sintéticos
O "ser sintético"
foi colocado em água salgada, à qual foi aplicada uma corrente elétrica
alternada - entre 0 e 5 volts - que faz com que as células cardíacas pulsem,
movimentando o biorrobô.
Na verdade, as células
cardíacas já pulsavam ligeiramente sem a aplicação da corrente, mas geravam um
movimento que não era forte o suficiente para movimentar o biorrobô.
"Como engenheiros,
ficamos muito confortáveis em construir coisas de aço, cobre e concreto,"
disse o Dr. Kevin Parker, coautor do estudo. "Eu vejo as células como
outro tipo de substrato de construção, mas precisamos de especificações
quantitativas rigorosas para mover a engenharia de tecidos para um tipo
reproduzível de engenharia."
Segundo Parker, enquanto a
biologia sintética e sua busca pela vida artificial está "focada na
manipulação genética de células, em vez de construir uma célula só, nós
queremos construir uma besta". Adapatação do Site Inovação Tecnológica -
Bibliografia:
A tissue-engineered
jellyfish with biomimetic propulsion
Janna C Nawroth, Hyungsuk Lee, Adam W Feinberg, Crystal M Ripplinger, Megan L McCain, Anna Grosberg, John O Dabiri, Kevin Kit Parker
Nature Biotechnology
Vol.: Published online
DOI: 10.1038/nbt.2269
Janna C Nawroth, Hyungsuk Lee, Adam W Feinberg, Crystal M Ripplinger, Megan L McCain, Anna Grosberg, John O Dabiri, Kevin Kit Parker
Nature Biotechnology
Vol.: Published online
DOI: 10.1038/nbt.2269
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